quinta-feira, 16 de julho de 2015

RECONCILIAI-VOS

Reconciliai-vos


Reconciliai-vos com Deus. Este apelo-convocação brota forte do coração missionário do apóstolo Paulo. Com essa veemência, ele se dirige aos Coríntios, na sua IIa. Carta. O capítulo quinto tem um tom quase dramático, explicitando uma urgência para a vida da

humanidade no enfrentamento das candentes questões existenciais contemporâneas. Paulo não vacila ao fazer esse apelo. Ele o faz no coração da complexidade urbana do seu tempo, em Corinto, Éfeso, Atenas e muitos outros lugares. Ele é convicto dessa necessidade.

Conhecedor do que se passa no coração humano e das dificuldades enfrentadas pela sociedade do seu tempo nas diferentes culturas por ele freqüentadas. Por isso enfrenta grandes dificuldades, indiferenças e zombarias.

São espécies de venenos sutis e demolidores que transitam pelas veias do mundo urbano do tempo de Paulo e de todos os outros tempos. É resultado da perda terrível do sentido de humanidade e da referência insubstituível de Deus. Que dá lugar, facilmente, aos interesses do momento-segundo da vida, como a economia, o lucro, o bem estar social e outros. E mesmo sendo segundo tem, sim, sua importância. Contudo, jamais pode substituir o sustentáculo que é a referência a Deus. Insubstituível, é a fonte inesgotável para produzir sentido e compreensão que sustentam o equilíbrio de que a humanidade necessita para prosseguir viagem.

Referência a Deus que as culturas não podem dispensar para manter sua configuração progressiva e cada indivíduo precisa para não perder o prumo de sua existência. O apelo-convocação de Paulo não é um eco estreitado no âmbito estrito de uma vivência religiosa. Os Atenienses, em diálogo com ele, até o dispensaram, conta o evangelista Lucas num episódio narrado no capítulo dezessete dos Atos dos Apóstolos. Chamaram-no, ironicamente, de tagarela. Até o levaram ao areópago de Atenas pedindo a ele que lhes contasse sobre a nova doutrina que estava pregando. As coisas que Paulo lhes dizia soavam estranhas, confessaram os seus interlocutores atenienses.

Lucas anota que todos os atenienses e os estrangeiros, no areópago, passavam o tempo a contar ou a ouvir as últimas novidades. O apóstolo fermenta a curiosidade dos seus interlocutores analisando suas circunstâncias e sublinhando a indispensável busca de Deus, ainda que às apalpadelas.

Respondendo à necessidade de encontrá-lo, e destacando que na realidade ele não está longe de nenhum coração humano porque, conclui Paulo, n’Ele se vive, se move e tudo existe. Paulo sofreu oposições e também teve adesões de muitos que abraçaram a fé. Este apelo-convocação, reconciliai-vos, continua contemporâneo. Ele tem no seu reverso os cenários que revelam uma humanidade sem rumos e se enveredando por caminhos insustentáveis na organização da vida e em tudo o que diz respeito à solidariedade e ao compromisso de efetivação de uma civilização do amor – que é tarefa de todos. Sua realização é impensável e sem fecundidade quando se risca Deus da pauta dos seus processos.

Também, é indispensável a consciência da responsabilidade individual e comunitariamente articulada do serviço de reconciliação que cada pessoa tem, na sua responsabilidade social e política, e na sua vivência de fé. Paulo lembra que é Deus quem reconcilia.

Reconciliai-vos com Deus é uma insistência que focaliza o ponto de partida e de chegada de todo processo fecundo que envolve esta premissa maior. Mas, sublinha também a tarefa de cada um, constituído como embaixadores, em nome de Deus, desta reconciliação.

Um projeto que é mais abrangente do que apenas a conquista de dinâmicas que corrigem pontualmente os funcionamentos da sociedade - com intervenções nos seus mecanismos nefastos e geradores destes terríveis cenários de devastação, exclusão e disputas ferinas que vão caracterizando a vida planetária.

Esta reconciliação tem um endereço primeiro na interioridade de cada pessoa. Essa é uma condição primeira. E nessa hora tão grave de sua história, a humanidade reclama pela conquista dessa grande reconciliação. Não existe, senão na interioridade, a fonte inesgotável para uma demonstração eloqüente da solidariedade, do respeito e do amor para com toda a família humana.

O coração humano é o lugar do amor que tem força de penetrar e fermentar todas as relações sociais. Este amor pode ser entendido como caridade social ou política. Importa ser estendido a todo o gênero humano. Sua fonte é o coração e a inteligência, e não pode ser assoreada. É incontestável que o egoísmo é o mais deletério inimigo da sociedade. A vida social e o exercício da política não podem ser pensados apenas nos seus mecanismos de funcionamento. O amor há de ser sua fonte referência. Deus é amor. É muito atual o apelo:

Reconciliai-vos com Deus!

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