terça-feira, 25 de agosto de 2015

ENTENDENDO O LIVRO DO APOCALIPSE E SEUS SIMBOLISMOS.

O Interesse pelo

significado do Apocalipse

O apocalipse (“apokalypsis” em grego, revelação) de São João, o Teólogo, é o único livro profético do Novo Testamento. Nele são revelados o destino do gênero humano, o fim do mundo e o começo da vida eterna, e por isto então, localiza-se ao término das Sagradas Escrituras.
O Apocalipse é um livro misterioso, e de difícil compreensão. Justamente este caráter misterioso atrai o interesse de cristãos, bem como também o de pensadores leigos, que buscam apenas decifrar o sentido e o significado das visões aí descritas. Existe um grande número de livros sobre o Apocalipse, grande parte da qual é formada de várias publicações absurdas, especialmente estas que são associadas com a literatura sectária contemporânea.
        Apesar das dificuldades de compreensão deste livro, sábios espiritualmente iluminados e os Santos Padres da Igreja sempre se referiram a ele com grande reverencia, por ser um livro inspirado por Deus. Assim, São Dioniso de Alexandria escreve: “A obscuridade deste livro não impede que nos surpreendamos com ele. E até mesmo se eu não entender tudo o que nele está escrito, isto se ocorre em virtude de minha incapacidade. Eu não posso ser juiz das verdades nele contida em razão da incompreensão por parte de minha mente; usando-me mais da fé que da racionalidade, eu as considero apenas superiores a minha compreensão.” São Jeronimo se expressa da mesma maneira relativamente ao Apocalipse: “Nele há tantos mistérios quanto palavras. Mas o que estou dizendo eu é que qualquer elogio a este livro estará sempre aquem de seu verdadeiro valor.”
        O Apocalipse não é lido durante a celebração da Liturgia porque antigamente a leitura das Sagradas Escrituras sempre era seguida por uma explicação, porém o Apocalipse é bastante complexo de explicar.

O Autor

O autor do Apocalipse se denomina João (Apo. 1:1, 4 e 9, e 22:8). Na opinião de todos os Santos Padres da Igreja, ele era o Apóstolo João, discípulo amado de Cristo, que recebera, em razão da profundidade de seus estudos sobre a Palavra de Deus, o cognome “Teólogo.” Sua autoria também é substanciada de forma efetiva no próprio Apocalipse, por muitos indícios internos e externos. e pena inspirada de João, o Teólogo, atribui-se um dos Evangelhos e três Epístolas. O autor do Apocalipse afirma ter estado na ilha de Patmos, “por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo”(Apoc.1:9). Atraves da história da Igreja sabemos que de todos os Apóstolos, São João o Teólogo, foi sujeitado a encarceramento nesta ilha.
        A prova da autoria do Apocalipse ser de São João o Teólogo está na semelhança deste livro com o seu Evangelho e as Epístolas, semelhança não só em espírito, mas também de estilo, e especialmente no uso de certas expressões características. Por exemplo, o sermão Apostólico aqui é denominado como “Testemunho” (Apoc. 1:2-9; 20:4; vide também João 1:7; 3:11; 21:24; e 1 João 5:9-11). O Senhor Jesus Cristo é chamado “Verbo” (Apoc. 19:13 e João 1:1-14 e 1 João 1:1) e “o Cordeiro” (Apoc. 5:6 e 17:14; e também João 1:36). As palavras proféticas de Zacarias,"Então eles olharão para mim a quem transpassaram” (Zac. 12:10), ambos, no Evangelho e no Apocalipse, são citados da mesma maneira, de acordo com a tradução grega dos “Setenta” (Apoc. 1:7 e João 19:37, tradução de Septuagint). Algumas diferenças de linguagem entre o Apocalipse e outros escritos do Apóstolo São João, são explicadas como sendo diferenças de contexto como também por circunstâncias que originaram os escritos do Apóstolo São João, que sendo judeu de nascença e, embora tendo conhecimento do idioma grego, achava-se encarcerado e longe da influencia do grego falado, naturalmente imprimiu no Apocalipse influências de sua língua nativa. Saltam aos olhos do leitor imparcial do Apocalipse, na totalidade de seu conteúdo, as evidencias da marca indelével da imensa espiritualidade do Apóstolo, seu amor e compreensão.
        Existe unanimidade entre os Santos Padres em aceitar São João como o autor do Apocalipse. Seu discípulo, Papias de Hierapolis, se refere ao autor do Apocalipse como “João, o Ancião,” da mesma maneira que o Apóstolo se refere a si próprio nas Epístolas (2 João 1:1 e 3 João 1:1). De grande importância é também a opinião do Santo Mártir Justino, que viveu em Efeso antes de sua conversão ao Cristianismo, lugar onde o Apóstolo João habitou muitos anos antes. Muitos Santos Padres do segundo e terceiros séculos citam o Apocalipse, como sendo um livro inspirado por Deus e escrito por São João, o Teólogo. Um deles era Santo Hipólito, papa romano e discípulo de Ireneu de Lion que escreveu uma apologia do Apocalipse. Clemente de Alexandria, Tertuliano, e Origen também reconhecem São João como o autor do Apocalipse. Estão igualmente convencidos disto outros Santos Padres que viveram em tempos posteriores, como : São Efraim o sírio, Epiphanius, São Basilio Magno, Hilário, Athanasius o Grande, Gregório o Teólogo, Didymus, Ambrosio de Mediolano, Augustine o Santificado, e Jerome o Santificado. O trigésimo terceiro cânon do Concílio de Cartago, atribuindo o Apocalipse a São João o Teólogo, coloca-o junto a vários outros livros canônicos das Sagradas Escrituras. e de suma importância o testemunho de Ireneu de Lions atribuindo a autoria do Apocalipse a São João, o Teólogo porque São Ireneu era discípulo de São Policarpo de Smirna, que por sua vez era discípulo direto de São João, o Teólogo e sob sua orientação apostólica direta chefiava a Igreja de Smirna.

Período, local, e finalidade

da redação do Apocalipse

Antigas tradições estabelecem que o Apocalipse foi escrito no fim do primeiro século. Por exemplo, São Irineu escreve : “O Apocalipse surgiu pouco antes disto e quase em nosso tempo, nos fins do reinado de Domiciano.” O historiador Eusébio (no começo do quarto século) informa-nos que escritores pagãos contemporâneos fazem menção do tempo do exílio de São João para Patmos por divulgar a Palavra de Deus, e fixam este evento no décimo quinto ano do reinado de Domiciano (81-96 D.C.).
        Assim, o Apocalipse teria sido escrito ao término do primeiro século, quando cada uma das sete igrejas da Ásia Menor, a quem São João dirigiu suas epístolas, já possuíam sua própria história e de um modo ou de outro, já tinham determinado a direção de sua vida religiosa. O Cristianismo entre elas já não estava em seu estado original de pureza e verdade, e um pseudo-cristianismo estava tentando competir com o verdadeiro. Ao que tudo indica, a atuação do Apóstolo Paulo, que dedicou muito tempo pregando em Êfeso tornou-se lembrança de um passado distante. Os cronistas eclesiásticos dos tres primeiros séculos, são concordes no que diz respeito ao local onde foi escrito o Apocalipse, o qual eles reconhecem ser a ilha de Patmos, mencionada pelo próprio Apóstolo, como sendo o lugar onde ele recebeu a Revelação (Apoc. 1:9-11). Patmos fica situado no Mar Egeu, ao sul da cidade de Êfeso e durante tempos antigos era lugar de exílio.
        Nas primeiras linhas do Apocalipse, São João indica o propósito da Revelação: predizer o destino da Igreja de Cristo e da humanidade. A missão da Igreja de Cristo era reavivar o mundo com sermões Cristãos, plantar nas almas dos homens a verdadeira fé em Deus, ensinar-lhes a viver com retidão, e mostrar-lhes o caminho para o Reino dos Ceus. Porém, nem todos receberam a pregação Cristã de coração aberto. Alguns dias depois de Pentecostes, a Igreja encontrou hostilidade e oposição consciente ao Cristianismo, no princípio por parte do clero e dos escribas judeus, e posteriormente dos judeus descrentes e pagãos.
        Já no primeiro ano do Cristianismo, teve início a perseguição sangrenta dos pregadores do Evangelho. Lentamente estas perseguições começaram a assumir forma organizada e sistemática. Jerusalém veio a ser o primeiro centro de combate ao Cristianismo. Por volta do Ano 50 do primeiro século, Roma, governada pelo Imperador Nero (54-68 D.C.), juntou-se aos perseguidores do cristianismo. As perseguições começaram então em Roma, onde o sangue de muitos cristãos foi derramado, inclusive o dos Apóstolos Pedro e Paulo. Ao final do primeiro século, intensifica-se a perseguição aos cristãos. O Imperador Domiciano decreta que se faça perseguição sistemática aos cristãos, inicialmente na Ásia Menor e posteriormente em todo o Império romano. São João o Teólogo, foi chamado para Roma, onde foi lançado em um caldeirão com óleo fervente mas permaneceu incólume. Domiciano então exilou São João para a ilha de Patmos onde o Apóstolo recebeu a Revelação quanto aos destinos da Igreja e o mundo inteiro. Com algumas breves interrupções, as perseguições sangrentas à Igreja continuaram até o ano 313, quando o Imperador Constantino proclamou o Édito de Milão, permitindo a prática religiosa.
        Em decorrência do início das perseguições, São João escreve o Apocalipse para consolar, ensinar, e fortalecer os cristãos em sua fé. Ele revela as intenções secretas dos inimigos da Igreja, personificando-os como feras que emergem do mar (como representante do poder secular hostil) e na besta saída do interior da terra, o falso profeta (como o representante do poder hostil pseudo-religioso). Denuncia também, o responsável pela luta contra a Igreja — o demônio. Este antigo dragão que catalisa as forças anti-religiosas e as direciona contra a Igreja. Porém, os sofrimentos dos que creem não são em vão. Pela lealdade e paciência deles para com Cristo, eles recebem a recompensa merecida no Reino dos Ceus. No tempo designado por Deus, as forças hostis antagônicas da Igreja serão levadas a julgamento e receberão o castigo merecido. Depois do Juízo Final e do castigo dos ímpios, teve início a bem aventurada vida eterna.
        O propósito de escrever o Apocalipse, era retratar a luta futura da Igreja contra as forças do mal; mostrar os métodos que o demônio, com a cooperação de seus servos, usa na guerra contra a bondade e a virtude; orientar o cristão em como superar as tentações; retratar o perecimento dos inimigos da Igreja e mostrar o triunfo final de Cristo sobre o mal.

Conteúdo, plano,

e simbolismo do Apocalipse

O apocalipse sempre atraiu a atenção dos cristãos, especialmente nos tempos em que várias desgraças e tentações ameaçavam perturbar a vida da comunidade e da Igreja. Entretanto, o simbolismo e os mistérios deste livro fazem-no uma obra de difícil compreensão, e assim sempre existe um risco para os intérpretes imprudentes em ultrapassar os parâmetros da verdade em direção a esperanças e crenças impossíveis. Por exemplo, a compreensão literal da obra dava e ainda dá origem ao falso ensinamento do reinado de mil anos do Reino de Cristo na terra. Os horrores das perseguições já no primeiro século, levaram alguns cristãos a interpretar o Apocalipse e concluir que estavam vivendo os “Últimos Dias” e que a segunda vinda de Cristo era iminente.
Durante os últimos vinte séculos, surgiram as mais variadas interpretações do Apocalipse. Todas estas interpretações podem ser divididas em quatro classes:
        A primeira, designa as visões e símbolos do Apocalipse aos “Últimos Dias,” o fim do mundo, a vinda do anticristo e a Segunda Vinda de Cristo.
        A segunda, atribui ao Apocalipse um significado puramente histórico e confina suas visões para eventos históricos ocorridos no primeiro século: a perseguição dos cristãos por parte dos imperadores pagãos.
        A terceira, tenta encontrar as realizações das previsões Apocalípticas nos eventos históricos de seu tempo. Em tal interpretação, por exemplo, o papa de Roma seria o anti-cristo e todas as calamidades Apocalípticas são previsões feitas apenas para a Igreja de Roma.
        Finalmente, a quarta classe vê o Apocalipse como alegoria, considerando que as visões nele descritas possuem caráter mais moral que profético. Como veremos adiante, estes pontos de vista do Apocalipse não se excluem, mas apenas se complementam.
        O Apocalipse se pode ser entendido corretamente no contexto das Sagradas Escrituras. A especificidade de várias visões proféticas, tanto do Velho, quanto do Novo Testamento, encontram-se no princípio da união de certos fatos históricos numa determinada época. Em outras palavras, eventos espiritualmente relacionados, separados por vários séculos e até mesmo milênios, fundem-se em uma única visão profética, unindo dentro de si mesmo os elementos de vários períodos históricos.
        Como um exemplo de tal síntese, podemos citar as palavras proféticas do Salvador sobre o fim do mundo. Aqui, o Senhor fala simultaneamente sobre a destruição de Jerusalém, que aconteceria cerca de trinta e cinco anos após sua crucificação e dos tempos que precedem a Sua segunda vinda (Mat. 24, Mar. 13, Luc. 21). A razão para tal unificação de eventos consiste no fato de que o primeiro ilustra e esclarece o segundo.
        Não raro, profecias do Velho Testamento falam simultaneamente das mudanças benéficas da sociedade humana durante o tempo do Novo Testamento e da vida nova no Reino de Deus. Neste caso, o primeiro serve como início do segundo (Isa. 4:2-6, 11:1-10 e capítulos 26, 60 e 65; Jer. 23:5-6, 33:6-11; Hab. 2:14; Sof. 3:9-20). Antigas profecias referentes e destruição da Babilônia caldaica falam também, simultaneamente, da destruição do reinado do anticristo (Isa. Cap. 13-14 e 21; Jer. Cap. 50-51). Existem muitos exemplos semelhantes de fusão de eventos em uma profecia. Tal método de unificação de fatos de acordo com sua identidade substancial, é usado para ajudar aos que crêem, no entendimento da essência dos fatos com base em eventos já conhecidos, deixando de lado os detalhes históricos secundários e sem importância.
        Como veremos adiante, o Apocalipse compõem-se de uma série de visões multi-facetadas. O profeta apresenta o futuro baseando-se em uma perspectiva de passado e de presente. Por exemplo, a besta de muitas cabeças dos capítulos 13 e 19 corresponde ao anticristo e aos que o precederam. Antíoco Epifanes (descrito pelo profeta Daniel e citado nos dois primeiros livros dos Macabeus), corresponde tanto aos imperadores romanos Nero e Domiciano (que perseguiram os Apóstolos de Cristo), quanto aos inimigos futuros da Igreja.
        Duas testemunhas de Cristo no capítulo 11 — são os acusadores do anticristo (Enoque e Elias)- bem como o são seus sucessores, os Apóstolos Pedro e Paulo, e todos os outros pregadores do Evangelho que cumprem sua missão de proclamar o Evangelho em um mundo hostil ao Cristianismo. O falso profeta citado no capítulo 13 e a personificação de todos o propagandistas de falsas religiões (Agnosticismo, Islamismo, Hinduísmo, materialismo e vasta gama de heresias); dentre os quais, o representante mais marcante será o falso profeta contemporâneo ao anticristo. Para entender por que o Apóstolo João uniu fatos diversos e várias pessoas em uma única imagem, tem-se que levar em conta o fato de que o Apocalipse não foi escrito somente para contemporâneos, mas também para cristãos de todos as épocas, que teriam de suportar perseguições e tristezas análogas. O apost. João descobre os métodos comuns de sedução bem como mostra os modos corretos de evita-los, para permanecermos fiéis a Cristo até a morte.
        De maneira semelhante, o Juízo Final repetidamente mencionado no Apocalipse, é o Juízo Final propriamente dito, como também todos os Juízos individuais de Deus aplicados sobre nações diferentes e indivíduos. Inclui-se aí o Juízo de todo o gênero humano durante o tempo de Noé e o Juízo das cidades de Sodoma e Gomorra no tempo de Abraão; o Juízo do Egito durante o tempo de Moisés e o duplo Juízo aplicado a Judeia (em 600 A.C. e novamente nos anos 70 D.C.), o Juízo da antiga Nenive, da Babilônia, do Império Romano, de Bizâncio, e, recentemente, da Rússia. As razões que evocaram o justo castigo de Deus sempre eram as mesmas: desobediencia às leis de Deus e falta de fé.
        No Apocalipse é perceptível uma atemporaneidade de eventos. Isto é devido ao fato de que São João contemplou o destino do gênero humano de uma perspectiva Divina para a qual o Espírito de Deus o tinha elevado. Num mundo ideal, junto ao trono do Todo-Poderoso, extingue-se a corrente temporal e diante da visão espiritual surge o presente, passado, e futuro simultaneamente. Provavelmente, esta é a razão que leva o autor do Apocalipse a descrever alguns eventos futuros como sendo do passado e outros passados como sendo presentes. Por exemplo, a guerra dos anjos nos Ceus e a expulsão do demônio dele — eventos ocorridos antes da criação do mundo — são descritos por São João como se eles tivessem ocorrido às vésperas do Cristianismo (Apoc. cap. 12). porém, a ressurreição dos mártires e sua bem-aventurança no reino dos Ceus, que aborda toda a época do Novo Testamento, é  citada por ele depois do julgamento do anticristo e dos falsos profetas (Apoc. cap. 20). Assim, o Observador não fala da sequência cronológica dos eventos, mas revela a essência da imensa luta do mal contra o bem, que é travada simultaneamente em várias frentes e abrange tanto o universo material quanto o mundo angelical.
        Indubitavelmente, algumas das profecias Apocalípticas já tiveram lugar (por exemplo, as relativas ao destino das sete Igrejas da Ásia Menor). As profecias já cumpridas deveriam nos ajudar a entender as restantes que ainda estão por acontecer. Porém, aplicando as visões Apocalípticas a esses ou outros eventos específicos, é necessário ter em mente que estas contem em si elementos de várias épocas. Somente com a conclusão de todos os destinos do mundo e com o castigo do último dos inimigos de Deus, é que todos os detalhes das visões Apocalípticas serão concretizados.
        O Apocalipse foi escrito pela inspiração do Espírito Santo. Sua correta compreensão tem por maior empecilho o afastamento do gênero humano da verdadeira fé e da vida Cristã, o que contribui para o entorpecimento da mente e para uma perda total da perspectiva espiritual, o que torna muito difícil qualquer entendimento correto do Apocalipse. A devoção total do homem contemporâneo às paixões pecadoras, servem de causa para que alguns intérpretes atuais do Apocalipse queiram ver nele uma simples alegoria e até mesmo a ensinar que a Segunda Vinda de Cristo seria um eufemismo. Eventos históricos do nosso tempo convencem-nos de que ver meras alegorias no Apocalipse é ser espiritualmente cego, tantos são os acontecimentos que lembram das imagens terrificantes e visões do Apocalipse.
        O método de exposição do Apocalipse é mostrado no diagrama abaixo. Pode-se ver que o Apóstolo revela várias esferas da existência simultaneamente. A esfera superior pertence ao mundo angelical, a Igreja, triunfante, no Céu, e a Igreja perseguida na terra. Encabeça e dirigi esta esfera de bondade o Senhor Jesus Cristo — Filho de Deus e Salvador dos homens. Abaixo está a esfera do mal: o mundo descrente, os pecadores, falsos profetas, aqueles que conscientemente se opõem a Deus (Teomaquia), e demônios. Dirigindo tudo isto está o dragão, o anjo caído. Ao longo de toda a existência do gênero humano, estas esferas combatem entre si. São João, em suas visões, vai descobrindo gradualmente ao leitor as várias facetas da batalha entre Bem e Mal e revela o processo do livre arbítrio do gênero humano como resultado do qual alguns pendem para o lado do bem, enquanto outros vão para o lado do mal. Durante o desenvolvimento deste conflito, o Juízo de Deus é constantemente aplicado sobre indivíduos e nações. Ao final do mundo, o poder do mal aumentará tremendamente, e a Igreja na terra estará extremamente debilitada e diminuída. Então o Senhor Jesus Cristo virá para a Terra, todas as pessoas serão ressuscitadas, e o mundo experimentará o Juízo Final. O demônio e seus seguidores serão condenados ao padecimento eterno, enquanto que para os seguidores da verdade começará a vida eterna e abençoada no Paraíso.
        Após uma leitura, o Apocalipse pode ser dividido do seguinte modo:
1.                  Introdução e imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo manifestado, ordenando que João escrevesse a Revelação para as sete igrejas da Ásia Menor (cap. 1).
2.                  Cartas para as sete igrejas da Ásia Menor (caps. 2 e 3) nas quais, simultaneamente com as instruções para estas igrejas, traçam-se os destinos da Igreja de Cristo do tempo dos Apóstolos até o fim dos tempos.
3.                  A visão de Deus sentado no Trono, do Cordeiro e da Divina Liturgia Celestial (caps. 4 e 5). Esta Divina Liturgia Celestial é completada por visões dos capítulos subsequentes.
4.                  A partir do sexto capítulo, tem início a revelação do destino do gênero humano. O rompimento dos sete selos, pelo Cordeiro de Deus, do livro sagrado, do início as várias fases da luta entre o Bem e o Mal, entre a Igreja e o demônio. Esta guerra, que começa na alma dos homens, alastra-se em todas as direções da vida humana, acirrando-se, fortalecendo-se e assumindo formas cada vez mais assustadoras (até cap. 20).
5.                  O soar dos sete clarins angelicais (caps. 7-10) anunciam o começo das calamidades que devem atingir o gênero humano por sua incredulidade e por seus pecados. Descrevem-se danos e natureza e o surgimento de forças malignas no mundo. Antes do início destes infortúnios, os crentes recebem na fronte (na testa) uma marca santificada, que os protege do mal moral e do destino dos infiéis.
6.                  A visão dos sete símbolos (caps. 11-14) descreve o gênero humano dividido em duas frentes opostas e irreconciliáveis — a do Bem e a do Mal. As forças do Bem estão concentradas na Igreja de Cristo, representadas aqui na forma de uma Mulher vestida com o sol (cap. 12), e as forças do Mal — no reino da besta, do anticristo. A besta que sobe do mar é o símbolo do maligno poder secular, e a besta que sobe da terra é o símbolo do poder religioso deteriorado. Nesta parte do Apocalipse, pela primeira vez é citado claramente um ser consciente e maligno, o dragão-demônio que organiza e dirige a guerra contra a Igreja. Duas testemunhas de Cristo simbolizam aqui os pregadores do Evangelho que batalham com a besta.
7.                  A visão dos sete cálices (caps. 15-17), apresenta um quadro tenebroso da decadência moral global. A guerra contra a Igreja fica extremamente tensa (Armagedon — Apoc. 16:16) — as provações insuportáveis. A imagem da Babilônia como meretriz depravada representa o gênero humano que abandonou à Deus e que está concentrado na capital do reino da besta, o anticristo. A força do mal espalha sua influência e todos os campos da vida da humanidade pecadora, após o que tem início o julgamento de Deus contra as forças do Mal (aqui, o julgamento de Deus contra a Babilônia é descrito em linhas gerais, como uma forma de introdução).
8.                  Nos capítulos seguintes (18 e 19), o julgamento da Babilônia é descrito em detalhes. Aqui é apresentado o perecimento dos culpados em espalhar o mal entre os homens — o anticristo e o falso profeta, representantes tanto do poder civil, quanto do poder heretico anti-cristão.
9.                  O vigésimo capítulo oferece a conclusão da guerra espiritual na história universal. Fala da dupla derrota do demônio e do reinado dos mártires. Tendo sofrido fisicamente, eles venceram no espírito e são benditos nos Ceus. Aqui se enfoca todo o período de existência da Igreja, desde os tempos apostólicos. Gog e Magog personificam a união de todas as forças (terrenas e não terrenas) que sempre lutaram contra Deus e a Igreja (Jerusalém), ao longo de toda historia Cristã. Eles são exterminados com a segunda vinda de Cristo. Finalmente é condenado ao castigo eterno o diabo, esta velha serpente que deu início a todas as mentiras, a desobediencia aos mandamentos e aos sofrimentos no Universo. O fim do vigésimo capítulo, é uma descrição da ressurreição dos mortos, do Juízo Final, e da condenação dos infiéis. Esta descrição curta resume o Juízo Final do gênero humano e dos anjos caídos e traça a conclusão da eterna guerra entre Bem e Mal.
10.              Os dois capítulos finais (21 e 22) descrevem o novo Céu, a nova Terra, e a vida bem-aventurada dos justos. Estes são os capítulos mais alegres e gloriosos da Bíblia.

Todo novo tópico do Apocalipse normalmente começa com as palavras “E eu vi” e termina com a descrição do Juízo Final. Esta descrição indica o fim do tópico anterior e o início de um novo. Entre as partes principais do Apocalipse, o Observador insere, por vezes, algumas imagens intermediárias, que servem de elos de ligação entre eles. O quadro aqui apresentado demonstra a evidência do plano e das divisões do Apocalipse. Para não nos estendermos demasiadamente, aglutinamos as observações intermediárias junto com as principais. Analisando o quadro na horizontal, vemos como, gradativamente se elucidam, cada vez com maior abrangencia, os seguintes campos: o mundo Celestial; A Igreja perseguida na Terra; o mundo pecador em oposição a Deus; o mundo subterrâneo; a luta entre eles, e o Juízo Final.

Significado dos símbolos e dos algarismos

        Os símbolos e algarismos permitem ao observador atento, falar da essência dos eventos terrenos em alto nível de generalização, por isso, utiliza-las fartamente. Por exemplo, os olhos simbolizam o conhecimento; e muitos olhos simbolizam o conhecimento perfeito. O chifre é o símbolo do poder, da força. Trajes longos simbolizam o clero; a coroa, o poder imperial; o branco, limpeza ou pureza; A cidade de Jerusalém, o templo, e Israel, a Igreja. Os algarismos também tem um significado simbólico: três simboliza a Trindade; quatro, o universo e a ordem universal; sete denota finalização e perfeição;doze, o povo de Deus, a fruição da Igreja(o mesmo significado tem os algarismos multiplos de 12, como 24 e 144.000). Um-terço indica pequena parte, insignificante, de um todo; três anos e meio, o período das perseguições. O número 666 especificamente, será estudado mais adiante.
        Os fatos do Novo Testamento são descritos, com frequência, com base em fatos semelhantes encontrados no Velho Testamento. Por exemplo, as perseguições da Igreja são descritas tendo por fundo os sofrimentos dos Israelitas no Egito, as tentações da época do Profeta Valaã, as perseguições por parte da Rainha Jezebel, e a destruição de Jerusalém pelos Caldeus; A salvação dos que creem, do demônio, é representada com base na salvação dos Israelitas do faraó, na época do profeta Moisés; o poder anti-religioso corresponde a imagem da Babilônia e do Egito; a punição destas forças é representada pelas dez pragas do Egito; o demônio funde-se com a serpente que tentará Adão e Eva; As futuras bençãos paradisíacas são representadas pelo Jardim do eden e pela árvore da vida.
        O problema básico do autor do Apocalipse consiste em demonstrar o funcionamento das forças do mau, quem as organiza e direciona na luta contra a Igreja; em orientar e fortalecer os que creem na fidelidade para com Cristo; em retratar a derrota total do diabo e seus súditos e o início das bençãos do paraíso.
        Apesar de todo o simbolismo e da hermeticidade do Apocalipse, as verdades religiosas nele se encontram de modo extremamente claro. Por exemplo, o Apocalipse aponta o demônio como sendo o culpado por todas as tribulações e desgraças do gênero humano. As armas por ele usadas são sempre as mesmas: A incredulidade, a desobediência para com Deus, o orgulho, os desejos pecaminosos, as mentiras, o medo, as dúvidas, etc. Apesar de toda sua astúcia e experiência, o demônio é incapaz de desgraçar os homens dedicados a Deus, do fundo de seus corações pois Deus os protege pela sua graça. Já os que se afastaram de Deus, bem como os pecadores, o demônio cada vez mais os escraviza, empurrando-os a todo tipo de males e crimes. Ele os direciona contra a Igreja e com seu auxílio estabelece violências e guerras no mundo. O Apocalipse mostra claramente que, no final dos tempos, o demônio e seus seguidores serão derrotados e castigados, a verdade de Cristo triunfará e, no mundo renovado, iniciar-se-á uma vida de bençãos, eterna.
Após essa breve exposição do conteúdo e da simbologia do Apocalipse, passemos a alguns dos seus pontos mais importantes.

Cartas para as sete igrejas

(Caps. 2-3).
As sete Igrejas — Êfeso (2:1-7), Smirna (2:8-11), Pérgamo (2:12-17), Tiatira (2:18-29), Sardes (3:1-6), Filadélfia (3:7-13), e Laodicéia (3:14-22) — ficavam situadas na região do sudeste da Ásia Menor, (atual Turquia). Foram fundadas pelo Apóstolo Paulo na quarta década do primeiro século. Após seu martírio e morte, em Roma ao redor do ano 67 D.C., a coordenação destas Igrejas coube ao Apóstolo João, o Teólogo que se encarregou delas por um período de cerca de quarenta anos. Sendo encarcerado na Ilha de Patmos, o Apóstolo João escreveu epístolas a estas igrejas, na tentativa de preparar os cristãos para as perseguições vindouras. As epístolas são dirigidas aos “anjos” destas igrejas, i.e., aos bispos.
        Um estudo cuidadoso das epístolas enviadas para as sete igrejas da Ásia Menor, leva a pensar que nelas está traçado o destino da Igreja de Cristo, começando no período Apostólico até o final dos tempos. Assim, o futuro caminho da Igreja do Novo Testamento, desta “Nova Israel,” acha-se representado tendo por fundo fatos importantíssimos de Israel do Velho Testamento, começando pelo pecado que causou a expulsão do paraíso e o final dos tempos dos fariseus e saduceus, no período do Senhor Jesus Cristo. O Apóstolo João utiliza-se de eventos do Velho Testamento na categoria de predecessores dos destinos da Igreja do Novo Testamento. Assim, nas epístolas dirigidas as sete igrejas mesclam-se três elementos:
        a) conjuntura contemporânea ao autor e o porvir de cada uma das Igrejas da Ásia Menor; b) uma interpretação nova, mais profunda da história do Velho Testamento; c) os futuros destinos da Igreja. O amalgama destes três elementos, nas epístolas dirigidas para as sete igrejas, encontra-se sumarizado no quadro anexo.

Notas: A Igreja de Êfeso era a de maior número de adeptos, possuindo status de Metropolitana com relação as demais igrejas da Asia Menor. Em 431 D.C., em Êfeso, teve lugar o Terceiro Conselho Ecumênico. Aos poucos, a chama do cristianismo na Igreja de Êfeso foi se extinguindo conforme as previsões do Apóstolo João. Pérgamo constituía-se em centro político do ocidente da Asia Menor, onde dominava o paganismo com seus cultos pomposos divinizando os imperadores pagãos. Numa colina próxima de Pérgamo, alteava-se grandioso um monumento de sacrifícios pagãos, mencionado no Apocalipse como “o trono de Satã” (Apo. 2:13-17). Os Nicolaítas representavam os antigos críticos-agnostas. A Gnose veio a se constituir em grande tentação para a Igreja nos primeiros séculos do Cristianismo. O campo propício para o desenvolvimento das idéias Gnósticas veio a ser a cultura do sincretismo surgido no Império de Alexandre da Macedônia, (Alexandre, o Grande) unindo o Ocidente ao Oriente. A visão religiosa do mundo oriental, com sua crença na eterna batalha entre os princípios do Bem e do Mal, do espírito e da matéria, do corpo e da alma, da Luz e das Trevas, unida ao método especulativo da filosofia grega, originou várias correntes gnósticas para as quais era característica a imagem da origem do mundo emanando do “Absoluto'' e dos inúmeros degraus da criação, ligando o universo ao Absoluto. É evidente que com a divulgação do Cristianismo no meio helenístico, surgiu o perigo da sua interpretação na terminologia gnóstica e a mudança dos ensinamentos Cristãos num dos sistemas religioso-filosóficos gnosticos. Jesus Cristo era para os adeptos da gnose, um dos intermediários entre o Absoluto e o universo.
        Um dos primeiros divulgadores do gnosticismo entre os cristãos foi um certo Nicolau, daí os “Nicolaítas” do Apocalipse. (Supõem-se ter sido este Nicolau que, entre outros seis homens eleitos, foi ordenado pelos Apóstolos diácono — ver Atos 6:5.). Deformando a fé Cristã, os gnósticos encorajavam a decadência moral. Desde meados do primeiro século, na Asia Menor, floresceram algumas de suas seitas. Os Apóstolos Pedro, Paulo e Judas preveniam aos cristãos para não caírem na rede destes hereges depravados. Representantes proeminentes da Gnose eram os hereges Valentim, Marcio, e Vassili, contra quem se opuseram os Apóstolos e os Santos Padres da Igreja.
        As antigas seitas gnosticas já haviam desaparecido há muito, mas, o gnosticismo como mescla de diversas escolas, de várias nacionalidades filosófico-religiosas existe até os nossos dias na teosofia, cabala, maçonaria , Hinduísmo contemporâneo, ioga e vários outros cultos.

Visão da Liturgia celeste

(Caps. 4-5).
São João teve a Revelação no “Dia do Senhor” quer dizer, no domingo. Deve-se entender que neste dia, como era o costume dos Apóstolos, ele “partiu o pão” i.e., celebrou a Divina Liturgia, comungou, e por isso “estava em estado de graça,” significando que ele estava em um estado especial de inspiração (Apo. 1:10). E assim, a primeira coisa que teve a graça de ver, foi como que a continuação da Liturgia por ele celebrada — a Liturgia celestial. É esta celebração que o Apóstolo João descreve no quarto e quinto capítulos do Apocalipse. O Cristão Ortodoxo reconhece aqui as características familiares da Liturgia dominical e os principais objetos existentes no altar: o Santo dos Santos, o candelabro de sete braços, o turúbulo com incenso fumegante, o cálice dourado, etc. (tais objetos mostrados a Moisés no Monte Sinai, também foram usados no templo do Velho Testamento). O sacrifício do Cordeiro de Deus, tal qual visto pelo Apóstolo, lembra ao indivíduo que crê, a comunhão na forma de pão sobre o altar; as almas dos martirizados por causa da Palavra de Deus, sob o altar divino evocam ao Antimins, um tecido especial colocado sobre o altar e no qual são costuradas relíquias dos santos mártires. O celebrante hierarquicamente superior, em paramentos claros, com coroas douradas encimando suas cabeças, lembra o conjunto do clero concelebrando a Divina Liturgia. É digno de nota, que as mesmas invocações e orações ouvidas pelo Apóstolo exprimem a quintessência das invocações e orações que os clérigos e o côro recitam durante a parte principal da Liturgia — o Cânone Eucarístico. A tintura dos paramentos dos piedosos pelo “sangue do Cordeiro” (Cap. 7), alude para a consagração das almas dos crentes pelo Sacramento da comunhão. Deste modo, o Apóstolo inicia a revelação dos destinos do gênero humano, a partir da descrição da Divina Liturgia, acentuando assim o significado espiritual da Liturgia e a necessidade das santas orações dos santos para nós.

Nota: As palavras Judá é filhote de leão” referem-se a Jesus Cristo e nos fazem lembrar da profecia de Jacó, relativo ao Messias (Gen. 49:9-10). Os “Sete Espíritos de Deus” referem-se e plenitude das dádivas do Espírito Santo (Isa. 11:2 e Zac. cap. 4). Os numerosos olhos simbolizam a omnisciencia. Os vinte e quatro anciãos correspondem as vinte e quatro sucessões sacerdotais estabelecidas pelo Rei Davi para o serviço no templo, tendo dois representantes para cada geração da Nova Israel (1 Par. 24:1-18). As quatro criaturas misteriosas que cercam o trono assemelham-se as criaturas vistas pelo profeta Ezequiel (Eze. 1:5-19). Ao que tudo indica são criaturas, as mais próximas de Deus. Estas imagens são de um homem, um leão, um bezerro, e uma águia e foram adotados pela Igreja na categoria de símbolos dos quatro Evangelistas.

        Numa descrição posterior do mundo celeste, encontramos uma infinidade de coisas que são incompreensíveis a nós. O Apocalipse nos ensina que o universo angelical é extremamente vasto. Espíritos imateriais, os anjos, são criados do mesmo modo que os homens pelo sábio Criador, são dotados de intelecto e livre arbítrio, embora seus dotes espirituais excedem em muito, os nossos. Os anjos são totalmente dedicados a Deus e servem-no orando e satisfazendo toda e qualquer vontade Sua. Por exemplo, eles elevam ao altar de Deus as preces dos santos (Apo. 8:3), colaboram com os justos na conquista da salvação (Apo. 7:3, 14:6-10, 19:9), simpatizam com os sofredores e os perseguidos (Apo. 8:13, 12:12), e executam as ordens de Deus castigando os pecadores (Apo. 8:7, 9:15, 15:6, 16:1). são dotados de poder e tem soberania sobre a natureza e seus elementos (Apo. 10:1, 18:1). Combatem satã e seus demônios (Apo. 12:7-10, 19:9, 20:2-3), e participam do julgamento dos inimigos de Deus (Apo. 19:4).
        O ensinamento do Apocalipse relativo ao universo angelical opõem-se, radicalmente aos dos antigos Gnósticos que aceitavam a presença de entidades intermediarias (elos) entre o Absoluto e o mundo real, que, sem qualquer dependencia dele, governam o universo.
        Dentre os santos que o Apóstolo João vê nos Céus, sobressaem dois grupos ou duas “imagens”: são os mártires e os castos. Historicamente, o martírio é o primeiro grau de santidade, e por isso o Apóstolo toma-o por ponto de partida (Apo. 6:9-11). Ele vê as almas dos mártires sob o Altar Celestial do Sacrifício simbolizando a remissão de seu martírio pelo qual participaram dos sofrimentos de Cristo e de alguma maneira os complementaram. O sangue dos mártires pode ser comparado ao sangue das vítimas do Velho Testamento, escorrendo no altar de sacrifícios no templo de Jerusalém. A história da Cristandade testemunha que o sofrimento dos antigos mártires serviu para a renovação moral do apático mundo pagão. Tertuliano, escritor da Antiguidade, afirma ser o sangue dos mártires uma semente para os novos cristãos. As perseguições aos que creem, ora diminuem ora aumentam no correr da existência posterior da Igreja e por isso foi revelado ao Observador, que caberá aos novos mártires complementar o número dos anteriores.
        Posteriormente, o Apóstolo João vê nos Ceus uma inumerável multidão, de todas as tribos, gerações, nações e línguas. Postados, trajados de branco empunhando ramos de palmeira (Apo. 7:9-17). A inumerável assembléia de justos possuia um ponto comum: “todos sofreram enormes aflições.” O caminho que leva ao Paraíso é único, para todos: é o das provações. Cristo é o primeiro Sofredor, tendo tomado a Si os pecados do mundo como o Cordeiro de Deus. Os ramos da palmeira são o símbolo da vitória sobre o demônio.
        Numa visão específica, o Observador descreve os castos, i.e., as pessoas que se privam dos prazeres da vida conjugal para se dedicar, exclusivamente, ao serviço de Cristo. São “eunucos voluntários” decididos a conquistar o Reino dos Céus (Mat. 19:12, Apo. 14:1-5). Na Igreja, semelhante feito, não raro concretiza-se na vida monástica. O Observador vê inscrito nas frontes dos castos o “nome do Pai,” indicando sua beleza espiritual e refletindo a perfeição do Criador. O “hino novo” por eles entoado, impossível de ser repetido por alguem, corresponde ao elevado grau de espiritualidade que eles conquistaram pelo sacrifício do jejum, da oração e da castidade. Constitui-se em pureza inatingível para os que levam um modo de vida mundano.
        O cântico de Moisés entoado pelos piedosos na visão seguinte (Apo. 15:2-8), lembra o hino de gratidão cantado pelos Israelitas quando, depois de cruzar o Mar Vermelho, foram salvos da escravidão egípcia (Exodo, cap. 15). Igualmente, a Israel do Novo Testamento salva-se do domínio e da influência do demônio, adotando um modo de vida abençoado por meio do Sacramento do Batismo. Nas visões seguintes, o Observador torna a descrever os santos. As ricas vestes de alvo linho são o símbolo de sua retidão para com Deus. No capítulo 19 do Apocalipse, o cântico nupcial dos justos prenuncia a aproximação do “enlace” entre o Cordeiro e os santos — i.e., da vinda da comunhão mais íntima entre Deus e os justos (Apo. 19:1-9, 21:3-4). O livro do Apocalipse termina descrevendo a vida santificada dos povos abençoados (Apo. 21:24-27, 22:12-14 e 17). São as páginas mais gloriosas e alegres da Bíblia, mostrando a Igreja triunfante no Reino da Glória.
        Assim, por revelação gradual do destino do mundo no Apocalipse, o Apóstolo João direciona o olhar espiritual dos que creem para o Reino dos Céus — para a meta final de nossa jornada terrestre. Fala, como que obrigado, de eventos difíceis no mundo pecador demonstrando o desejo de evitá-los.

Remoção dos sete selos.

Visão dos quatro cavaleiros

(Cap. 6).
A visão dos sete selos como que representa parte introdutória as revelações posteriores do Apocalipse. A remoção dos quatro primeiros selos mostra quatro cavaleiros que simbolizam quatro fatores característicos de toda história do gênero humano. Os dois primeiros representam as causas, e os outros dois, as consequências. No primeiro cavalo, o cavaleiro coroado “emergiu para ser vitorioso.” Personifica os bons princípios, inatos e abençoados com que o Criador dotou o ser humano: a imagem de Deus, a pureza espiritual e a inocência, o desejo em atingir o bem e a perfeição, a capacidade de crer e amar, alem dos “dons individuais” inerentes ao homem, bem como as graças do Espírito Santo, recebidas na Igreja. Na concepção do Criador, estes bons princípios devem “vencer,” i.e, determinar o futuro feliz da humanidade. Porém, ainda no Eden o homem caiu frente ao tentador. A natureza maculada pelo pecado, passou aos seus descendentes; por isso, desde os primeiros anos de vida, os seres humanos já estão inclinados para pecar. Da repetição dos pecados, reforçam-se a tendência para o mal. Assim, em vez de crescer espiritualmente e se aperfeiçoar, cai sob a influência de ações pecaminosas, torna-se invejoso e rancoroso. Da decadência interior advem a vulnerabilidade do Homem com relação a todos os crimes (violências, guerras e todos tipos de infortúnios).
        A ação destrutiva das paixões é simbolizada pelo corcel vermelho ígneo bem como pelo cavaleiro que afastaram “a paz dos homens.” Sucumbindo aos seus próprios desejos pecaminosos e desregrados, o ser humano desperdiça os talentos recebidos de Deus, empobrecendo física e espiritualmente. Já no tocante a vida em sociedade, o ódio e as guerras conduzem ao enfraquecimento e a decadência da comunidade, a perda dos recursos espirituais e materiais. Esta decadência interior e exterior do gênero humano é simbolizada pelo corcel preto e seu cavaleiro, portando uma balança na mão. Assim, a perda total das graças divinas conduz a morte espiritual e as consequencias últimas do ódio e das guerras, arruinando a comunidade, causando a morte dos indivíduos. Este triste destino do gênero humano é simbolizado pelo cavalo pálido.
        Os quatro cavaleiros do Apocalipse, representam em linhas gerais a história da humanidade. No princípio, a vida abençoada dos nossos ancestrais no eden, chamados a “reinar sobre a natureza (o cavalo branco); depois, sua queda em desgraça (o cavalo vermelho ígneo), após o que a vida dos seus descendentes tornou-se repleta de padecimentos pela aniquilação mútua (os corceis negro e pálido). Os cavalos do Apocalipse também simbolizam a vida de várias nações com seus períodos de prosperidade e declínio. Aí também se encontra a rota vital de cada ser humano: com sua pureza e inocência infantil, suas grandes capacidades potenciais que são obscurecidas pela juventude tempestuosa quando o ser humano dissipa seu vigor, sua saúde e finalmente morre. Aí está também a história da Igreja: a perseguição espiritual aos cristãos durante os tempos Apostólicos e os esforços da Igreja para fortalecer a sociedade humana. Surgem heresias e cismas na própria Igreja, perseguida pela sociedade pagã. A Igreja debilita-se, retira-se as catacumbas, enquanto algumas das igrejas regionais desaparecem totalmente. Assim, a visão dos quatro cavaleiros associa fatores que caracterizam a vida da humanidade pecadora. Este assunto será tratado com mais atenção em capítulos posteriores. Pela remoção do quinto selo, o Observador mostra o lado bom das calamidades sofridas pelo gênero humano. Cristãos que sofreram fisicamente, venceram espiritualmente; agora eles estão no Paraíso (Apo. 6:9-11)! Os seus feitos trouxeram-lhes recompensas eternas e reinam com Cristo, conforme o descrito no capítulo vinte. A passagem para uma descrição mais detalhada dos padecimentos da Igreja e o fortalecimento das ações contrárias a Deus, são simbolizados pela remoção do sétimo selo.

As sete trombetas,

marcação dos escolhidos,

início das calamidades

(Caps. 7-11).
As trombetas angelicais predizem ao gênero humano, os padecimentos físicos e espirituais. Mas, antes do seu início, o Apóstolo João vê um anjo marcando as frontes dos filhos da Nova Israel (Apo. 7:1-8). Israel representa a Igreja do Novo Testamento. As marcas simbolizam seleção e proteção divina. Esta visão lembra o Sacramento da Crisma, quando, na testa do recém batizado unge-se o “selo do Espírito Santo.” Lembra também o sinal da cruz que protege “contra as forças do mal.” Pessoas que não são protegidas pela divina marca sofrem a praga dos “gafanhotos” saídos das entranhas da terra, i.e., do poder das forças demoníacas (Apo. 9:4). O profeta Ezequiel descreve a mesma marca nos piedosos da velha Jerusalém, antes de sua conquista pelos exércitos Caldeus. Então, como agora, a marca misteriosa era colocada com o propósito de proteger os piedosos do destino dos ímpios (Eze. 9:4). Com a chamada nominal das doze tribos de Israel (Apo. ch. 7), a tribo de Dan foi propositadamente omitida. Alguns veem nisto a origem do anticristo no seio desta tribo. Este pensamento está baseado nas palavras enigmáticas do Patriarca Jacó relativo aos descendentes futuros de Dan: “serpente junto ao caminho, víbora junto a vereda” (Gen. 49:17).
        Assim, a presente visão introduz a descrição subsequente das perseguições da Igreja. A medição do templo de Deus, no capítulo onze, tem o mesmo significado da marcação dos filhos de Israel: proteção dos filhos da Igreja contra o mal. A Igreja de Deus, tal qual a Mulher vestida com a luz do sol e a cidade de Jerusalém ,são símbolos diferentes da Igreja de Cristo. A idéia básica destas visões é que a Igreja é Santa e é cara à Deus. Deus permite as perseguições em função do aperfeiçoamento espiritual dos que creem, mas protege-os contra a escravização do mal e do mesmo destino dos descrentes.
        Antes da remoção do sétimo selo, há um silencio “de cerca de meia hora” (Apo. 8:1). É a calmaria antes da tempestade que balançará o mundo durante o tempo do anticristo. (Será que o atual processo de desarmamento, resultante da derrocada do comunismo não corresponderia ao intervalo que é dado aos homens para se converterem a Deus?) Antes do início das calamidades, o Apóstolo João vê os santos orando ardentemente pela clemência para com o gênero humano (Apo. 8:3-5).

Calamidades naturais

        Seguem-se os sons das trombetas de cada um dos sete anjos e depois tem início as mais variadas calamidades. A princípio, perece um terço da vegetação; então, um terço de todos os peixes e outras criaturas marinhas; segue-se o envenenamento dos rios e nascentes de água. A queda de granizo e fogo sobre a terra, bem como de uma montanha incandescente e de uma estrela luminosa, ao que tudo faz crer, indica as colossais dimensões destas calamidades. Não estaria isso profetizando a contaminação global e a destruição da natureza, tão evidente nos dias atuais? Em assim sendo, a catástrofe ecológica atual prediz a vinda do anticristo. Deturpando cada vez mais a imagem de Deus, o gênero humano deixa de valorizar e amar Seu mundo maravilhoso. Com os seus próprios dejetos o gênero humano polui lagos, rios e mares. Derramamentos de petróleo contaminam vastas expansões costeiras; destroem-se florestas e selvas, exterminam-se várias espécies de animais, peixes e aves. Pela cruel ganância, envenenando o meio ambiente faz perecer tanto os culpados quanto os inocentes. As palavras “o nome da terceira estrela é Absíntio e muitos pereceram da água porque ficou amarga” o que nos faz lembrar da catástrofe de Chernobil porque “Chernobil” quer dizer “Absíntio.” Mas o que significa o perigo que atinge a terça parte do sol e das estrelas e seu eclipse?(Apo. 8:11-12). Provavelmente trata-se da poluição atmosférica até as proporções em que a luz do sol e das estrelas, atingindo a Terra, parece menos luminosa. (Por exemplo, devido a poluição do ar em cidades como São Paulo, Los Angeles e New York, o céu frequentemente apresenta-se de uma côr marrom-suja. Já a noite, com exceção das mais luminosas, as estrelas são pouco visíveis.).
        A narrativa sobre os gafanhotos (a quinta trombeta, Apo. 9:1-11) saídos das entranhas da terra, trata do fortalecimento da força demoníaca entre os homens. Ela é encabeçada por “Apolleon” que quer dizer “destruidor,” referindo-se ao diabo. A medida que os seres humanos, devido sua falta de fé e seus pecados vão perdendo a graça Divina, o vazio espiritual que neles se instala, é cada vez mais preenchido pela força demoníaca, martirizando-os com dúvidas e diversas paixões.

Guerras Apocalípticas

        A trombeta do sexto anjo põem em movimento um grande exército de além do rio Eufrates, o qual extermina um terço do gênero humano (Apo. 9:13-21). Na visão Bíblica, o rio Eufrates denota a fronteira atrás da qual se fixam as nações hostis a Deus e as que ameaçam Jerusalém com a guerra e o extermínio. Para o Império romano, o rio Eufrates serviu de anteparo contra os ataques dos povos orientais. O nono capítulo do Apocalipse, é escrito tendo como pano de fundo a guerra cruel e sangrenta entre Judeus e Romanos, de 66 a 70 D.C., ainda viva na memória do Apóstolo João. Esta guerra teve tres fases (Apo. 8:13). A primeira, durou cinco meses, de maio a setembro de 66 (cinco meses dos gafanhotos, Apo. 9:5 e 10). Teve por comandante dos exércitos romanos Gasius Flor. A segunda fase durou de outubro a novembro de 66, quando o governador sírio Cestius encabeçou quatro legiões romanas (quatro anjos junto ao rio Eufrates, Apo. 9:14). Esta fase da guerra foi extremamente danosa para os judeus. A terceira fase, comandada por Flavius Flavianum durou três anos e meio, de abril de 67 D.C. a setembro de 70 D.C., e terminou com a destruição de Jerusalém, o incendio do templo, e a diáspora dos judeus pelo Império Romano. Estas batalhas sangrentas serviram de prelúdio as terríveis guerras futuras, as quais se refere o Salvador em Seu sermão no monte das oliveiras (Mat. 24:7). Nos atributos dos gafanhotos infernais e das hordas do Eufrates, podem ser reconhecidas as armas contemporâneas de extermínio em massa: tanques, canhões, bombardeiros e mísseis nucleares. Os capítulos seguintes do Apocalipse, descrevem as guerras cada vez mais cruentas sempre presentes em nossa história (Apo. 11:7, 16:12-16, 17:14, 19:11-19, e 20:7-8). As palavras “secaram as águas do rio Eufrates para que se abrisse o caminho aos reis do Oriente” (Apo. 16:12), podem indicar um perigo mais além do oriente,. Com isto, deve-se levar em consideração, que o relato das guerras Apocalípticas possui características de guerras reais mas, numa abordagem última, refere-se a uma guerra espiritual, e os nomes próprios e as datas tem um significado alegórico. O Apóstolo Paulo elucida: “Porque nós não estamos nos insurgindo contra homens de carne e sangue, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares”(Efe. 6:12).
        O vocábulo Armagedon é composto de duas palavras: “Ar” em hebraico significa Planície e “Megiddo” é uma localidade ao Norte da Terra Santa, próxima ao monte Carmel onde, antigamente Barrack derrotou os exércitos comandados por Sisara e o profeta Elias e executou mais de quinhentos sacerdotes de Baal. (Apo. 16:16, 17:14; Juizes 4:2-16; 1 Reis 18:40). A luz destes eventos bíblicos, Armagedon simboliza a derrota das forças anti-religiosas por Cristo. Os nomes Gog e Magog no capítulo 20, lembram as profecias de Ezequiel a respeito da invasão de Jerusalém por um número indeterminado de regimentos sob o comando de Gog das terras de Magog (sul do mar Cáspio; Ezeq. cap. 38 e 39; Apo. 20:7-8). Ezequiel atribui esta profecia aos tempos do Messias. No Apocalipse, o cerco dos regimentos de Gog e Magog ao “local dos santos e da cidade eleita (i.e, da Igreja)” e a destruição destes regimentos pelo fogo Celestial, deve ser entendida pela derrota total das forças contrárias a Deus, humanas e demoníacas, pela segunda vinda de Cristo.
        No tocante aos sofrimentos físicos e aos castigos dos pecadores frequentemente citados no Apocalipse, o Observador explica que Deus os admite como uma lição para trazer os pecadores ao arrependimento (Apo. 9:21). Mas, com mágoa o Apóstolo menciona que os homens não atendem ao chamado de Deus, continuam pecando e servindo aos demônios. É como se “mordendo a isca” as pessoas estivessem se lançando para a própria morte.

Visões de duas testemunhas

                       (Apo. 11:2-12).
Os capítulos 10 e 11 ocupam lugar de transição entre as visões das sete trombetas e dos sete selos. Nos dois testemunhos de Deus, alguns Santos Padres veem os dois justos do Velho Testamento, Enoque e Elias, que voltarão a terra antes do fim do mundo com a missão de revelar as mentiras do anticristo e levar o gênero humano e lealdade para com Deus. Ou os dois poderiam ser ainda Moisés e Elias. É sabido que Enoque e Elias foram levados vivos para o Céu (Gen. 5:24, 2 Reis 2:11). As punições que estas testemunhas imporão ao gênero humano, lembram os milagres executados pelos profetas Moisés, Arão e Elias (Exo. caps. 7-12, 1 Reis 17:1, 2 Reis 1:10) Os Apóstolos Pedro e Paulo, que haviam sido executados recentemente em Roma por ordem de Nero, poderiam ter servido como protótipos das duas testemunhas apostólicas para São João. Evidentemente, as duas testemunhas no Apocalipse, simbolizam outras testemunhas de Cristo, divulgadoras do Evangelho no hostil mundo pagão e que, não raro, terminam seu ministério com o martírio. As palavras “Sodoma e Egito, onde até mesmo nosso Senhor é crucificado,” indicam a cidade de Jerusalém, onde sofreu nosso Senhor Jesus Cristo, vários profetas e muitos dentre os primeiros cristãos.

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