Nas Escrituras Sagradas, a água geralmente é símbolo de bênção. Representa a Palavra de Deus, o Espírito Santo, a purificação espiritual. Há, porém, ocasiões em que muita água é um perigo! Leiamos 2 Crônicas 32.1-4:
“Depois de tudo o que Ezequias fez com tanta fidelidade, Senaqueribe, rei da Assíria, invadiu Judá e sitiou as cidades fortificadas para conquistá-las. Quando Ezequias viu que Senaqueribe pretendia guerrear contra Jerusalém, consultou os seus oficiais e os comandantes do exército sobre a ideia de mandar fechar a passagem de água das fontes do lado de fora da cidade; e eles concordaram. Assim, ajuntaram-se muitos homens, e fecharam todas as fontes e o riacho que atravessava a região. Eles diziam: Por que deixar que os reis da Assíria venham e encontrem toda essa água?”.
Neste caso, as águas eram de fato um perigo, pois quando o inimigo chegasse seria suprido e fortalecido por elas. Portanto, a sensata providência do rei de Judá foi evitar que isto se concretizasse.
No nosso dia-a-dia, somos constantemente assediados pelo inimigo das nossas almas. Este é o motivo da recomendação do apóstolo: “Estejam alerta e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé…” (1 Pe 5.8-9). Assim como Senaqueribe queria apoderar-se das cidades fortes de Judá, Jerusalém incluída, da mesma forma o Diabo quer tomar posse da nossa vida espiritual, destruindo-a e reduzindo-a a mera religiosidade formal e oca. Para que os esforços do adversário sejam aspermos, é necessário – e urgente! – que tapemos todas as fontes que possam supri-lo e fortalecê-lo.
Talvez você esteja perguntando que fontes são essas, afinal. A resposta encontra-se em duas anotações paulinas:
1 Coríntios 6.9-10: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros, herdarão o Reino de Deus”.
Gálatas 5.19-21: “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus”.
As obras da carne! Elas são as águas que podem permitir o acesso do inimigo às nossas vidas, o qual tem o maior interesse em destruir nossas fortalezas espirituais, doadas a nós graciosamente pelo Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus. Quando damos lugar à carne – mas só quando damos lugar à carne (através de atitudes tais como prostituição, idolatria, feitiçaria, bebedeiras, comilanças, contendas “e coisas semelhantes”) – o Diabo está sendo suprido em sua sede de destruição e pode ficar forte a ponto de conseguir algum dos seus intentos contra nós. Caso contrário, não. Fortaleça a sua fé com as palavras de Deus: “… submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4.7). Nossa atitude diante do Diabo não deve ser de medo ou preocupação (alguns crentes têm uma verdadeira paranoia com relação ao inimigo), mas de resistência baseada na sujeição a Deus e à sua Palavra. Também está escrito: “Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2 Co 10.3-4).
É interessante notar que as fontes de águas de Jerusalém estavam “do lado de fora da cidade”. A carne está “do lado de fora da cidade”, não pertence ao reino do Espírito, ao ambiente espiritual. É lá fora que mora o perigo; é lá fora que as providências devem ser tomadas. Jesus declarou que “O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Portanto, a carne é que deve ser motivo de constante preocupação e vigilância, não o Diabo. Carne subjugada, Diabo sem suprimento.
Nem sempre temos condições de pelejar sozinhos. Ezequias “consultou os seus oficiais e os comandantes do exército”. Note a importância de mantermos comunhão com os nossos irmãos na fé. Perceba como é fundamental aliar-se aos líderes. É por isso que o sábio afirmou: “Quem se isola busca interesses egoístas e se rebela contra a sensatez”(Pv 18.1).
Não sei se você percebeu que foi depois de “tudo o que Ezequias fez com tanta fidelidade” que o inimigo apareceu por lá. Você conhece o dito popular: “Quanto mais rezo, mais assombração aparece”. A nossa maior dedicação a Deus e à sua obra faz com que a nossa carne mais se rebele, porque “… a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam” (Gl 5.17). Mas que bom que é assim, pois desta maneira temos a evidência necessária para sabermos se estamos indo bem na vida espiritual. Se você tem essa luta interior, então você sabe que está no caminho certo.
Vamos agir? “Por que deixar que os reis da Assíria venham e encontrem toda essa água?”
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