sábado, 20 de fevereiro de 2016

EVIDÊNCIAS DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ


TEXTO BASE: Gl 3.1-14


INTRODUÇÃO


      Nos dois primeiros capítulos desta carta, vemos que Paulo trata particularmente de sua defesa pessoal. No capítulo 1 vemos que o apóstolo com vigor insofismável combate demolindo os argumentos falaciosos de seus opositores, a saber, os falsos mestres judaizantes que estavam tentando minar o seu apostolado e o seu evangelho.

     Todavia no capítulo 2, Paulo continua defendendo o seu apostolado e o seu evangelho, porém, de forma mais abrangente, ressaltando que o seu evangelho em nada difere e que é o mesmo evangelho pregado pelos apóstolos de Jerusalém (2.1-10).

Não obstante, na metade do mesmo capítulo 2, Paulo tange a sua contudente defesa pelo evangelho da graça (2.11-14). E em seguida, “o apóstolo introduz a gloriosa doutrina da justificação pela fé no contexto do conflito que teve com o apóstolo Pedro (2.15-21)”.1

     Agora no (3.1-14), no qual vamos expor em resumo, Paulo vai elucidar veemente e de forma concisa o seu demolidor argumento em defesa da doutrina da justificação pela fé em 3 seções. Na primeira seção dos (vs.1-5) o apóstolo vai enfatizar a autencidade da justificação pela fé na experiência de vida dos gálatas.

Na segunda seção dos (vs.6-9) ele usa o exemplo de Abraão como base para o seu argumento em defesa da justificação pela fé; e na terceira seção dos (vs.10-14) Paulo conclui sua premissa focando o contraste entre a lei e a fé no aspecto da justificação.

    Hernandes Dias Lopes salienta que “as igrejas na Gálacia estavam sendo invadidas pelos falsos mestres, pregando um falso evangelho, com uma falsa motivação, e assim retrocediam na fé e voltavam ao jugo do judaísmo”.2

      Senão vejamos nesta primeira seção algumas preciosas lições que esta passagem nos ensina.



COMENTÁRIO BÍBLICO CONSULTADO E UTILIZADO:

1-Hernandes Dias Lopes. Gálatas, pág 113.
2- Ibid, pág 129.


EXPLANAÇÃO


      Paulo começa a sua premissa exortando aos gálatas por estarem dando ouvidos aos falsos mestres e ao falso evangelho pregado por eles, que por causa disso, estavam desobedecendo e abandonando o evangelho da graça de Cristo Jesus (vs.1). Não obstante, o apóstolo já havia deixado bem claro para eles todas as implicações necessárias acerca do evangelho (1.8-9);

E nos (vs.2-5) Paulo reelembra e continua exortando os gálatas de que eles receberam o Espírito Santo não por suas atitudes de querê-lo ou pela a obediência a lei, mas através da pregação do evangelho e pela fé, que é um dom de Deus dado ao homem que o habilita a crer para a salvação e comunhão com Ele mediante Cristo através do Espírito (Ef 2.8-9).   

E que seria uma completa tolice abandonar o verdadeiro evangelho da graça de Deus, para seguir um outro falso evangelho que foca nas atitudes do homem o meio para se alcançar a salvação e obter as bençãos provenientes de Deus.

Doravante a tudo isto, Vejamos então duas graves advertências (3.1).

a) O abandono do evangelho é uma completa tolice (vs.1a).
     
     Paulo começa uma série de advertências aos gálatas dizendo que eles não estavam agindo de forma coerente, isto é, sem discernimento algum, pois abandonar o evangelho da graça para seguir o falso evangelho das obras era praticamente loucura! A palavra insensatos (anoetos) descreve uma pessoa tola e que age sem sabedoria.3

Esta palavra não somente denota uma incapacidade de pensar, mas também a falha em usar a mente para raciocinar. Calvino diz que “a queda dos gálatas era mais uma questão de demência do que de ingenuidade”.John Stott frisa que “o afastamento dos gálatas do evangelho era não apenas uma espécie de traição espiritual (1.6), mas também um ato de loucura (3.1).5 

Portanto, “aqueles crentes que outrora haviam crido em Cristo e sido salvos pela graça, agora estavam retornando e colocando-se novamente debaixo do jugo da lei”.6 Daí Paulo afirma que este retroceder da fé dos gálatas é um ato extremo de pessoas sem juízo. NTLH Era como se ele dissesse: Ó gálatas sem juízo!NTLH

APLICAÇÃO

     Quando uma pessoa que conhece o verdadeiro evangelho da graça de Deus e retrocede na fé, voltando novamente a participar de uma doutrina contrária aos ensinamentos de Cristo que outrora esteve, isto é, no engano do falso evangelho sincrético pregado pelas igrejas/seitas neopentecostais e pentecostais, tal pessoa perdeu ou não tem nenhum juízo!

Noutras palavras, seria o mesmo também que conhecer a verdade e continuar congregando nestas igrejas/seitas que pregam o falso evangelho sendo omisso a sã doutrina.  

b) Atender aos falsos mestres é ser enganado pelo falso evangelho (vs.1b).

     “A palavra grega usada aqui, (abaskanen), traz a idéia de um feitiço, significa enfeitiçar, lançar um encanto, procurar prejudicar alguém mediante um mau olhado ou por palavras malignas”.7 Nesta segunda advertência aos gálatas, Paulo diz enfaticamente: Quem os enfetiçou? NVI e NBV Ou quem foi que enfeitiçou vocês? NTLH

Ou seja, o apóstolo aqui ressalta que pelo fato dos Gálatas darem ouvidos ao que os falsos mestres ensinavam, eles estavam na verdade enfeitiçados, enganados e completamente cegos pela mentira do falso evangelho. Hendriksen corrobora que “os gálatas não se deram conta que um Cristo suplementado é um Cristo suplantado”.8

Isto é, um Cristo diferente do Cristo apresentado pelo verdadeiro evangelho, e também um Cristo fabricado de acordo com a cobiça do homem para satisfazer as suas próprias vontades e necessidades egoístas. Em suma, um Jesus que nunca existiu!

APLICAÇÃO

      A base operante por de trás do falso evangelho tem a sua origem em Satanás. O próprio diabo é o espírito mentiroso que age por meio dos falsos pastores inspirando-os a ensinar a mentira, adulterando e corrompendo o verdadeiro evangelho tornando-o um falso evangelho sincrético. Que por sinal tem corrompido e levado a apostasia de muitos crentes hoje.

(Mt 7.15) Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. ARA (24.11) E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos; ARC vs.24 porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. ARA; (1Tm 4.1-2O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios.Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada. NVI
John Stott salienta que “grande parte da estupidez cristã para entender e aplicar o evangelho talvez se dê a esse feitiço causado pelo falso evangelho ensinado pelos falsos pastores”.Como resultado, vemos muitos crentes hoje enfeitiçados e presos no engano do diabo. Uma pungente e triste realidade em nosso meio.

(1Jo 4.1Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. NVI

1- AS EVIDÊNCIAS IRREFUTÁVEIS DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ (3.1-5)

a) A experiência dos cristãos comprova a justificação pela fé (vs.1c).

      Hernandes Dias Lopes com muita clareza diz que “o evangelho pregado por Paulo aos Gálatas tinha como cerne a mensagem da cruz. Esta mensagem era tão viva, eloquente e poderosa que o Cristo crucificado foi mostrado a eles como que num autdoor”.10

Matthew Henry afirma que “os gálatas tiveram a mensagem da cruz pregada a eles e a ceia do Senhor ministrada entre eles e, em ambas, tinha sido exposto claramente o Cristo crucificado, e a natureza dos seus sofrimentos”.11 E como resultado do evangelho anunciado, eles creram nele, nasceram de novo, passaram a obedecer as suas implicações e, por conseguinte, se tornaram cristãos plenamente.

APLICAÇÃO

         A prova irefutável de que um pessoa foi justificada pela fé em Cristo e no evangelho, e se tornou um verdadeiro cristão, está centrada na sua experiência de vida. A fé salvifíca é indelevelmente manifestada pelas boas obras em concordância com o evangelho que cremos!

(Tg 2.17-18Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações é coisa morta. Mas alguém poderá dizer: Você tem fé e eu tenho ações. E eu respondo: Então mostre como é possível ter fé sem que ela seja acompanhada de ações. NTLH

Se não há atitudes que denotam o novo nascimento, tal pessoa não foi justificada pela fé e, em contra partida, não faz parte da família de Deus.    

b) A vida cristã começa pela fé (vs.2).

      Indignado e ao mesmo tempo admirado pela falta de juízo dos gálatas em estar retrocedendo do evangelho da graça de Cristo Jesus para o evangelho das obras pregado pelos falsos mestres, Paulo insere esta crucial pergunta: Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?

     No grego, a palavra saber (manthano) significa aprender por meio de informação, ser informado. E também denota entender, compreender algo”.12 Indubitavelmente, Paulo com esta pergunta retórica estava tentando entendercompreender como os gálatas receberam o Espírito Santo: Obedecendo a lei ou por terem ouvido a mensagem do evangelho?

Noutras palavras, Paulo estava querendo saber o seguinte; parafraseando: Eu quero apenas entender uma coisa. Vocês receberam o Espírito Santo pela prática da lei ou pela pregação do evangelho? “A nova vida de vocês foi o resultado do esforço para teantar agradar a Deus (através da lei)? ou foi por terem aceitado a mensagem de Deus (pela fé)?”. Bíblia em Linguagem Contemporânea

     A própria experiência de vida cristã dos gálatas estava sendo posta em cheque. Eles haviam recebido o Espírito Santo e juntamente a nova vida em Cristo não por intermédio da lei, mas pela fé no evangelho pregado por Paulo. John Macarthur diz que “ouvir a respeito da fé é, na verdade, ouvir com fé”.13

E para concluir esta síntese, vimos que “Paulo recorreu à própria salvação dos gálatas para refutar o falso ensino dos judaizantes de que é necessário cumprir a lei  para a salvação”.14

APLICAÇÃO

      “Nenhuma pessoa pode tornar-se cristã sem o Espírito Santo, pois se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele (Rm 8.9). Entretanto, o Espírito nos é dado não pelas obras da lei, mas pela pregação da fé. Nossa entrada na família de Deus, quando recebemos  o Espírito é pela porta da fé, e não pelas obras”.15

c) O crescimento na vida cristã é pela fé (vs.3).

      Os gálatas haviam começado bem a vida cristã. “Em sua experiência de conversão, eles haviam recebido o Espírito pela fé, não pelas obras da lei”,16 diz Paulo. Porém, depois de algum tempo, eles estavam retornando novamente ao jugo da lei. O termo carne descrito por Paulo aqui é referente a velha natureza humana decaída do cristão, isto é, a vida irregenerada.

Adolph Pohl diz que “a carne é portadora daquele movimento para longe de Deus, que visa tornar-se independente na distância do Criador. Carne é o esforço de viver a partir das reservas e das próprias forças”.17

      Portanto, este pensamento dos gálatas de achar que para crescer na vida cristã era necessário observar os preceitos da lei e os ritos judaicos imposto pelos falsos mestres (4.9-10), era uma atitude absurda e completamente irracional. Por isto Paulo aqui novamente denomina os gálatas como crentes sem juizo!

Era como se ele dissesse: Será que vocês ficaram completamente loucos? Pois, se a tentativa de obedecer as leis judaicas nunca lhes deu vida espiritual no princípio, por que vocês pensam que a tentativa em obedecê-las agora fará vocês cristãos mais fortes? NBV

APLICAÇÃO

      “A vida cristã é vivida no poder do Espírito pela fé de ponta a ponta. Todos os seus estágios são desenvolvidos pela fé, na força do Espírito, e não pelas obras”.18 Hendriksen afirma que “os gálatas estavam começando a renunciar a Cristo como seu único e todo suficiente salvador”.19 Ou seja, apostatando da fé.

     Esta mesma história tem se repetido no decorrer dos séculos, e está tão atual e voraz como nunca em nossos dias. As velhas e mesmas heresias, porém hoje com roupagem nova, tem seduzido, engando e corrompido muitos crentes, levando-os a praticarem um estilo de “vida cristã” completamente espúrio ao que a bíblia ensina.

     Muitos cristãos pensam que a observância de certos preceitos ascéticos como o jejum, a abstinência de certo tipo de roupa, de assistir Tv e de atividades que proporcionam o lazer vão santificá-los e levá-los ao crescimento espiritual. Nenhuma prática devocional com “aparência religiosa” tem este poder (Cl 2.20-23). David Stern diz que “a obediência de forma legalista aos mandamentos de Deus é propriamente desobediência a lei”.20

O desenvolvimento na santificação é proveniente da ação do Espírito santo em nós. As disciplinas espirituais que o cristão observa praticando são na verdade a evidência de que ele está sendo aperfeiçoado por Deus. Se não há crescimento espiritual não há devoção, e se há crescimento espiritual se pratica a devoção (Fp 2.13).

d) O sofrimento é suportado pela fé (vs.4).

     A palavra sofrestes no grego basicamente significa padecer. “No sentido mais geral, ser afetado por algo de foraser influenciado, passar por uma experiência”.21 “A palavra pode significar experimentar o mal sofrendo, e também pode ser usada no sentido neutro de experimentar”.22

     Conforme observamos, Paulo aqui releembra os gálatas do quanto eles haviam sofrido ou padecido tanto ARC nas mãos dos pagãos e dos judeus fanáticos quando estavam começando a vida cristã (At 13.45,50; 14.2-6,19,22).
Entretanto, “se eles estavam afastando-se do evangelho que no inicio abraçaram, todo este sofrimento havia sido inútil”.23 De nada valeu então sofrer por causa do evangelho!

APLICAÇÃO

     Sofrer pelo evangelho é privilégio glorioso. O sofrimento quando é visto e encarado na perspectiva de Deus redunda em glórias ao Senhor e em peso de glórias para nós. (2Cor 2.17Esta pequena e passageira aflição que sofremos vai nos trazer uma glória enorme e eterna, muito maior do que o sofrimento NTLH(terreno). Grifo acrescentado do autor

(Rm 8.18Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. NVI

     Quando somos perseguidos e maltratados por causa da nossa fé em Cristo, isto é agradável e glorifica a Deus, pois denota que estamos no caminho certo e sendo indizivelmente aperfeiçoados pelo nosso Senhor.

 (1Pe 2.19-21)  Porque é louvável que, por motivo de sua consciência para com Deus, alguém suporte aflições sofrendo injustamente. Pois que vantagem há em suportar açoites recebidos por terem cometido o mal? Mas se vocês suportam o sofrimento por terem feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. NVI

 e) Os milagres que recebemos de Deus são pela fé (vs.5).

      Novamente Paulo continua expressando presteza no seu argumento esclarecedor aos gálatas em defesa da justificação pela fé, e ao mesmo tempo demonstra espanto e indignação com mais uma pergunta enfática: Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação do evangelho? ARA

Noutras palavras: Será que Deus, que vos dá o seu Espírito e realiza tantos milagres entre vocês – faz tudo isso como resultado das suas tentavivas de obediência as leis judaicas ou pela fé com a qual receberam a palavra? NBV

     O evangelho pregado por Paulo e barnabé na Gálacia, não havia chegado somente por meio de palavras sublimes que expressam o Cristo crucificado, mas com grande manifestação de sinais e prodígios (At 14.3). “Tanto a dádiva do Espírito como a operação de milagres chegaram até os gálatas pela pregação da fé, e não pelas obras da lei”.24

APLICAÇÃO

     É triste a dura realidade que vemos inerente em nosso meio. Muitos crentes vivendo não pela fé, mas pelas as atitudes. O falso evangelho imbuído no seio da igreja evangélica hodierna ensina que, para se obter o favor de Deus, os crentes precisam obedecer a “certas regras contidas na palavra de Deus”, que na verdade são preceitos e doutrinas humanas e de instituições religiosas.

Isto não é o que o genuíno evangelho ensina, e são muitos crentes hoje que estão enredados e presos neste obscuro e escravizador caminho do sincretismo evangélico.  

Warren Wiersbe ressalta com muita propriedade que “Deus continua a suprir o Espírito em poder e em bênção, e isso é feito pela fé, não pelas obras da lei. Esses milagres incluem transformações extraordinárias dentro da vida dos cristãos, bem como maravilhas no meio da igreja”.25  - A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ É COMPROVADA PELAS ESCRITURAS (3.6-9)

     Nesta segunda seção, Paulo agora “faz uma transição da experiência dos crentes da Gálacia para as escrituras. Ele tira os olhos do presente e volta-os para o passado”.26 O apóstolo “equilibra a experiência subjetiva dos gálatas com o ensinamento objetivo da Palavra de Deus”.27

     Conforme sabemos pelos evangelhos, e por Paulo em algumas de suas cartas no Novo Testamento,“os judeus consideravam Abraão como seu pai e fonte de suas bençãos espirituais. Eles acreditavam que pelo simples fato de serem descendentes físicos de Abraão, isto os tornava justos diante de Deus”28 (Jo 8.31-44,53,56-59);

“Era como se a justiça que foi atribuida a Abraão fosse uma divida que Deus devia aos judeus pelas sua obras”, diz Hendriksen. 29

Portanto, devido a este entendimento equivocado acerca da doutrina da justificação, Paulo utiliza aqui o exemplo da experiência de Abraão que creu na promessa feita por Deus pela fé, e não pelas obras da lei, (uma vez que a lei ainda não existia na epóca de Abraão) para ilustrar e corrigir a visão dos gálatas concernente a este ponto.

     Tendo em mente (Gn 15.1-6; 17.5-8), Paulo corrobora que Deus através de Abraão, suscitaria uma numerosa descendência de filhos na fé a ele. Abraão seria pai de multidões, ou seja, todos os crentes da antiga e nova aliança que haveriam de crer em Jesus como o Messias (Hb 8,9.1-15,23-26), assim como Abraão creu em Deus e na promessa, são filhos de Abraão e igualmente justificados como ele foi pela fé (vs.6-9).

Senão vejamos os 2 argumentos onde Paulo elucida que em (Gn 15.1-6 e 17.5-8) a enfase não está nas obras, e sim na fé.

a) Abraão foi justificado pela fé (vs.6-7).

      Paulo começa  o seu crível argumento citando o exemplo da experiência de Abraão descrito em (Gn 15.1-6 e 17.5-8), e traça um paralelo entre a sua justificação e a justifcação atual dos crentes. “Deus fez uma promessa a Abraão, ele creu em Deus, e a sua fé foi imputada como justiça”.30 O termo imputado aqui e em (Gn 15.6) tem o mesmo significado que em (Rm 4.11,22-24).

A palavra grega significa creditar na conta de alguém. Quando um pecador crê em Cristo, a justiça de Deus é creditada em sua conta. É mais do que isso, os pecados dessa pessoa deixam de ser registrados nessa conta (Rm 4.1-8). Assim, diante de Deus o histórico da pessoa está sempre limpo e, portanto, o que creu não pode jamais ser julgado por seus pecados”.31  

      F.B. meyer salienta que “muito antes de ter-se tornado judeu por meio do rito de iniciação do judaísmo, que é a circuncisão, Abraão creu na promessa de Deus e com base nisto foi declarado justo (Gn 15.6)”.32 Em contrapartida, a “sua circuncisão aconteceu somente um década depois da sua justificação em (Gn 17.10-14,23-27).

Ou seja, o Abraão incircunciso, ímpio, foi justificado pela fé, e não pela lei (Rm 4.11-12).33 Logo, por conseguinte, em descendência, Abraão é pai de todos os judeus (circuncisos); espiritualmente é pai tanto dos judeus crentes e também dos gentios (incircucisos) crentes (Rm 4.16; Gl 3.29).

E concluímos a passagem com esta pergunta: Se Abraão, o pai dos crentes foi justificado pela fé, por que então os seus filhos seriam justificados pela obras da lei?

b) “Os gentios são justificados pela fé (vs.8-9)”.34

      Conforme podemos observar, Paulo aqui está citando (Gn 12.3; 22.17-18; At 3.25). Mas que benção é essa aqui descrita no texto? “A benção é a justificação, a maior de todas as bençãos, pois os verbos justificar abençoar são usados como equivalentes no (vs.8). E o meio pelo qual a benção é herdada é a fé. Sendo assim, os gálatas já eram filhos de Abraão, não pela circuncisão, mas pela fé”.35

      A salvação tanto no Antigo quanto no Novo testamento sempre foi pela fé, e nunca pelas obras. Todos as figuras, rituais e sacrificios inerentes antes e depois da lei apontavam para Cristo como o antitipo de cada um deles (Hb 8, 9). “A palavra abençoados (vs.9) é usada de forma variada nas escrituras; aqui, porém, ela siginifica adoção à herança da vida eterna”.36

Não obstante, “Deus preanunciou o evangelho a Abraão e nele abençoou todos os povos”,37 portanto, todos os que creem (sem distinção de judeu ou gentio) são abençoados como ele foi. NTLH

      Calvino sintetiza que “os crentes são abençoados não com o Abraão circuncidado, não com pessoas que tem o direito de se gloriar nas obras da lei, não com os hebreus, não com pessoas que confiam em sua própria dignidade, mas com Abraão, que pela fé somente, obteve a benção”.38

O CONTRASTE ENTRE A JUSTIFICAÇÃO PELAS OBRAS DA LEI E A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ (vs.10-14).

      Nesta última seção em pauta, Paulo destaca o contraste entre o viver pela fé (vs.11b) e o viver pela lei (vs.12) como formas de justificação. No entanto, ao invés de justificar, a lei amaldiçoa ao que não a obedece plenamente (vs.10), pois suas exigências são impossíveis de se cumprir.

No (vs.12) Paulo diz que a obediência não é um ato absoluto de se praticar toda a lei  somente, mas se trata de um ato contínuo de sempre estar obedecendo. E que pela sua obediência e morte de cruz, Jesus fez por nós o que erámos incapazes de fazer, isto é, “Cristo removeu de nós a maldição por causa da desobediência da lei (vs.13).

E é através da fé que recebemos os beneficios fornecidos pela sua morte; incluindo a justificação (vs.11b) e a promessa do Espírito Santo (vs.14)”. 39 Vejamos então 5 pontos essenciais que abarca o contraste entre a justificação pelas obras da lei e a justificação pela fé.

a) A lei é perfeita e exige perfeição (vs.12).

      Paulo diz em (Rm 7.12) que a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. Aquele que observar os seus preceitos, por eles viverá (3.12). ARA Porém, todos nós somos pecadores e não temos a capacidade de obedecer as demandas da lei. Tiago diz no (2.10) que qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, se torna culpado de todosARA Entretanto, o papel da lei não é salvar, mas revelar o pecado ao pecador, e mostrá-lo o caminho, a verdade, e a vida (Jo 14.6).ARA A lei é o caminho que nos leva até a Cristo (3.24).

b) A lei determina maldição ao desobediente (vs.10).

      “Aqueles que buscam a justificação pelas obras da lei estão debaixo de maldição, pois esta é a sentença que a lei impõe para aqueles que não permanecem em perfeita obediência aos seus preceitos. O caminho da lei está baseado nas obras do homem e exige cumprimento, como o homem é imperfeito, a lei o coloca debaixo de maldição”.40

(Dt 27.26) Maldito quem não puser em prática as palavras desta lei. NVI

c) “A lei produz frustração (vs.11)”.41

      Todos que fazem das obras lei a ponte que remete a salvação eterna, não chegam nem mesmo a dar os primeiros passos nesta ponte.
É uma completa insensatez pensar desta forma como os gálatas pensavam, e como a igreja evangélica hodierna pensa. “Ninguém jamais conseguiu (e conseguirá) alcançar o padrão de obediência exigido pela lei”.42

      William barclay diz que “o princípio da lei e o da fé são totalmente antitéticos; não se pode dirigir a vida por ambos ao mesmo tempo; a pessoa terá que escolher; ou a lei ou a fé. E a única escolha lógica é a de abandonar a via do legalismo e entrar pelo caminho da fé”.43

d) “A fé é o único meio para a justificação (vs.11.b)”.44

     A palavra justo aqui significa ser contado como justo aos olhos de Deus, e viver pela fé refere-se ao plano superior da vida abrangendo a vida eterna”.45 Paulo nesta passagem cita (Habacuque 2.4), e o apóstolo utiliza a mesma citação também em (Rm 1.17) para delinear a mesma verdade;

Somos justificados não pela nossa tentavia de obediência a lei, mas pela obediência de Cristo em nosso lugar pela fé (Rm 3.26) mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. ACF

e) “A justificação é por intermédio de Cristo (vs.13-14)”.46

      “A lei coloca os pecadores sob maldição? Cristo nos redime dessa maldição! Desejamos a bênção de Abraão? Ela é recebida por meio de Cristo! Desejamos o dom do Espírito, mas somos gentios?

Por meio de Cristo, esse dom é concedido aos gentios! Tudo de que precisamos encontra-se em Cristo! Não há motivo algum para voltar a lei”.47 “Depender da lei significa depender de si mesmo. Exercer a fé significa depender de Cristo”.48  

CONCLUSÃO

     Após destronar o conceito errôneo dos falsos mestres judaizantes sobre a questão lei, e mostrando aos gálatas a inabilidade do homem ser justificado diante de Deus pelas obras da lei, Paulo agora conclui toda a sua premissa acerca da justificação pela fé enfatizando o caráter da obra de Cristo em 2 aspectos.  

a) Os crentes são justificados com base no sacrifício expiatório de Cristo (vs.13a).

     Jesus agiu de duas maneiras na cruz. Ele foi o nosso representante substitutivo e ao mesmo tempo o nosso fiador. “A palavra resgatou no grego diz respeito a compra da liberdade de um escravo ou de um devedor”.49

Outrora erámos escravos de satanás e do pecado. E Cristo nos resgatou da maldição da lei. ARA Ele nos libertou da escravidão de satanás e do pecado (Ef 2.1-3; Rm 6.6,17-18,22; 7.14). Ele levou sobre si a maldição que era nossa por direito por termos infrigo a lei. Não tinhámos condições de pagar pelo nosso crime.

Por isto Cristo se tornou ele próprio maldição em nosso lugar. Ele levou sobre si a maldição que estava sobre todos aqueles que violaram a lei pecando contra a santidade de Deus. E que maldição era esta? A sentença da morte eterna (Rm 6.23; Ez 18.4). Cristo exauriu e desviou para si próprio a ira de Deus contra o pecado e contra o pecador em nosso lugar e em nosso favor e pagou a nossa divída com Deus.

b) A justificação é a benção de Abraão destinada a todos os crentes pela fé (vs.14).

      Assim como Abraão foi justificado pela fé, todos os que creem recebem esta benção, a justificação pela fé. (At 13.39E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê. ARC Por meio dele, todo aquele que crê é justificado de todas as coisas das quais não podiam ser justificados pela lei de Moisés. NVI (Rm 5.1) Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. ARA

E juntamente pela fé, os crentes recebem o Espírito Santo prometido (Joel 2.28-29; At 2.17-18) que nos regenera (Jo 3.3,7), convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11),  nos ajuda em nossas fraquezas (Rm 8.26), intercede por nós junto a Deus Pai (Rm 8.27), nos guia (Rm 8.14) e nos possibilita a ter uma profunda comunhão com Deus em Cristo Jesus o nosso Senhor (1Cor 1.9; 2Cor13.13; Fp 2.1).




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