sábado, 20 de fevereiro de 2016

O CHAMADO DO EVANGELHO_DEFINIÇÃO


Mt 28.19-20a / Mt 20.16
     
Doravante a questão do chamado do Evangelho na ordem da salvação, podemos defini-lo em 2 aspectos:

     Em primeiro lugar, temos o chamado externo e, em segundo, o chamado interno. Não obstante, nesta seção veremos somente acerca do chamado externo ou chamado geral ou universal, que são outros termos usados por alguns teólogos, mas que em nada difere do significado real do tema proposto.


     O chamado externo, ao contrário da vocação eficaz ou chamado interno; ambos termos diferentes, mas que denotam a mesma coisa é um convite feito a todos para que ouçam o evangelho. R.C. Sproul afirma que este chamado refere-se à pregação do evangelho. E também pode ser ouvido por meio da leitura da Bíblia.

Louis Berkhof diz que o chamado externo é o meio designado por Deus de levar os pecadores à conversão. Noutras palavras, é o meio pelo qual Deus reúne os eleitos, recolhendo-os das nações da terra. Isso fica claro na parábola das bodas (Mt 22.1-14) e na parábola da grande ceia (Lc 14.16-24). Cada uma dessas parábolas retrata o chamado do evangelho.

      Portanto, conclui-se que, o chamado externo é a oferta da salvação em Cristo às pessoas, junto com um convite para aceitar a Cristo em arrependimento e fé, para que recebam o perdão dos pecados e tenham a vida eterna.


O caráter do chamado externo

     Conforme vamos estudando sobre a ordem da salvação, percebemos que não há menção do termo externo em toda a bíblia, mas vemos que ela fala claramente de um chamado que não é eficaz, como está descrito em (Mc 16.15-16Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo: quem, porém, não crer será condenadoARA

     Este chamado externo é geral ou universal no sentido de que ele é pregado a todos os tipos homens de toda tribo, língua, povo e nação sem restrição alguma.
Este chamado não é limitado somente a uma classe especial de homens, antes, ele é anunciado a todos, aos eleitos e não eleitos também. Nessa mesma linha de pensamento, Vicent Cheung escreve: Quer na forma de discurso público, conversa privada, literatura escrita ou outros meios, a pregação do evangelho é direcionada tanto aos eleitos como aos não-eleitos.

(Is 55.1) Ah todos vós, os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. ARA

(AP 22.17) O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça da água da vida. ARA

(Mt 11.28) Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. NVI

     Haja vista que uma consideração de vital importância deve ser enfatizada. Os gentios, que são o povo que não pertence à nação de Israel, que não são Israelitas, que não receberam a lei de Deus, não desfrutam somente deste chamado ou vocação através da palavra do evangelho, mas isso também não significa que eles não recebam qualquer tipo de chamado.

Deus fala a eles também, pela natureza (Rm 1.20), pela história (At 17.26), pela razão (Jo 1.9) e através da consciência (Rm 2.14-15). Porém, essa vocação é inadequada para a salvação, pois ela não fala de Cristo, que é o único caminho para o Pai e o único nome debaixo dos céus pelo qual importa que sejamos salvos (Jo 14.6; At 4.12), mas ela é de grande valor e sua importância não pode ser desconsiderada.

      Não obstante, esse chamado que Deus faz a todos os homens em Sua Graça comum, não pode ser uma proclamação do evangelho, mas é certamente uma pregação da lei. Apesar de o homem devido à escuridão de seu entendimento, interpretar e aplicar a lei de maneira equivocada, essa lei é a mesma lei moral essencialmente dada por Deus ao homem escrita em seu coração.

(Rm 2.14-16) Quando pois, os gentios que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho. ACF
     Sobretudo, este chamado externo, proveniente desse testemunho geral ou desse tipo de linguagem de Deus que vem até nós através da natureza, da história, da razão e pela consciência, deve ser diferenciada daquela que está contida na proclamação do evangelho.

Herman Bavinck ressalta que o chamado feito através da palavra transcede muito o chamado feito através da natureza, da história, da razão ou consciência, pois, enquanto a segunda permite que o homem ouça apenas a voz da lei e coloca diante dele a exigência: Faça isso e viverá.

Contudo, o chamado através da palavra procede de Cristo, onde temos a Graça de Deus como seu conteúdo, e oferece gratuitamente ao homem o mais desejável de todos os benefícios, a saber, o perdão de pecados e a vida eterna através da fé e do arrependimento.  

     Enquanto esta vocação ou chamado não se tornar, pela acompanhante operação do Espírito Santo, um chamado interno e eficaz, só tem significado preliminar e preparatório.

Visto que ele não flui da eleição eterna e da graça salvadora de Deus, mas antes, da Sua bondade comum e que, apesar de produzir às vezes certa iluminação da mente, não enriquece o coração com a graça salvadora de Deus.

     Indubitavelmente, este é um gracioso chamamento para que o pecador aceite a Cristo pela fé, e uma promessa condicional de salvação. Embora a condição só se cumpra nos eleitos, e, portanto, somente eles podem obter a vida eterna. O resultado final é que, os eleitos, somente os eleitos, aceitam a Cristo pela fé. O não-eleito ou rejeitará o evangelho, ou produzirá uma profissão de fé temporária e falsa.


A necessidade do chamado externo

     O convite do evangelho precisa ser feito a todas as pessoas. A bíblia não nos deixa dúvida sobre isso. Na grande comissão, Jesus disse aos seus discípulos e a igreja de todas as eras: Vá e faça discípulos de todas as nações. Entretanto é também, ao mesmo tempo, uma ordem e uma convocação vinda de um rei. Observe como Jesus expressa isso na parábola da grande ceia em (Lc 14.23)Respondeu-lhe o senhor: sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa.

Antony Hoekema afirma que o convite do evangelho não é algo que deixe a pessoa livre para aceitar ou não, ele é uma ordem do soberano Senhor de toda a criação que manda que nos aproximemos dele para salvação – uma ordem que não pode ser ignorada sob pena de eterna perdição.

     O método de redenção revelado em Cristo deve ser exposto com clareza em todas as suas relações.
A descrição do método de salvação deve ser suplementada por um fervoroso convite ao pecador para arrepender-se e crer, isto é, para aceitar a Cristo pela fé.

(2 Cor 5.11,20) Uma vez que conhecemos o temor ao Senhor, procuramos persuadir os homens. O que somos está manifesto diante de Deus, e esperamos que esteja manifesto também diante da consciência de vocês. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus. NVI

Mas a fim de que esta vinda a Cristo não seja entendida num sentido superficial e errôneo, como muitos pregadores neopentecostais e pentecostais o fazem, deve-se deixar perfeitamente claro que o pecador não tem poder algum para se arrepender e crer verdadeiramente, mas que é Deus que efetua nele tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13).
 
     E concluímos nesta seção que, o chamado externo contém igualmente uma promessa de que serão aceitos todos os que cumprirem as condições necessárias, não com suas forças, mas pelo poder da graça de Deus produzida nos seus corações pelo Espírito Santo. Os que pela graça se arrependem dos seus pecados e aceitam a Cristo pela fé, recebem a firme certeza do perdão dos pecados e da salvação eterna.  

Esta promessa, é bom que se note, nunca é absoluta, mas, antes, sempre condicional. Ninguém pode esperar o seu cumprimento, a não ser no modo de fé e arrependimento verdadeiramente produzido por Deus na vida da pessoa; e não em um falso arrependimento e uma falsa fé equivocada produzidos pela emoção religiosa do falso evangelho.  


A conexão entre o chamado externo e o chamado interno

     Em suma, podemos dizer que o chamado de Deus é um só. Porém, essa distinção que existe entre o chamado exterior e interior, são duas conotações interligadas entre si, embora separadas, mas ao mesmo tempo unidas e com um objetivo principal: cumprir o propósito redentor e soberano de Deus.

     Conforme vimos anteriormente na definição do chamado do evangelho, o chamado exterior acontece somente através da palavra de Deus pregada ou ouvida por meio da leitura bíblica. Daí, pela poderosa aplicação do Espírito Santo na vida da pessoa que ouviu o evangelho pelo chamado exterior, ele converge-se em chamado interior.

A Palavra de Deus anunciada e ouvida no chamado externo, torna-se eficiente no coração pelo chamado interno através da regeneração. Ou seja, a pessoa responde ao chamado interior (já regenerada) se voltando para Deus em arrependimento e fé.
Vicent Cheung salienta que o chamado interno ou eficaz é uma obra divina que acompanha o chamado externo para fazer com que o eleito chegue à fé em Cristo. A pregação do evangelho se mostra a todos como um chamado externo, mas ela vem também como uma intimação interna aos eleitos.

O chamado externo é produzido pelos seres humanos, mas o interno é uma obra somente de Deus e ocorre somente nos eleitos. O segundo é habitualmente concomitante com o primeiro. Em outras palavras, muitas pessoas podem ouvir o evangelho numa determinada situação, mas Deus faz com que apenas os eleitos creiam no que é pregado, ao passo que endurece os não-eleitos contra o mesmo.

 (Mt 22.14) Porque há muitos convidados, mas poucos escolhidosTradução do Novo Mundo


A natureza do chamado externo

      O apelo do evangelho estende uma chamada à salvação a todo que ouve a mensagem. Ele convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água da vida e viver. Ele promete salvação a todo que se arrepender e crer. Mas essa chamada geral externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não trará pecadores a Cristo. Por que?

Os homens estão, por natureza, mortos em pecado e debaixo de seu poder (Ef 2.5). Eles são por si incapazes de abandonar os seus maus caminhos, e se voltarem a Cristo para receber misericórdia (Rm 3.10-11). Todavia, eles não podem e nem querem fazer isso. Conseqüentemente, o não regenerado não vai responder à chamada do evangelho para arrepender-se e crer (1Cor 2.14).

      A parábola das bodas, em (Mt 22.2-14) denota que alguns convidados não compareceram ao chamado do rei, e termina com a famosa afirmação de Jesus: Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. A mesma lição também nos é ensinada na parábola da grande ceia em (Lc 14.16-24).

No entanto, outras passagens falam explicitamente de uma rejeição ao Evangelho, como em (Jo 3.36; At 13.46). Ainda outras falam do terrível pecado da incredulidade, em termos que mostram que havia alguns que o cometeram (Mt 10.15; 11.21-24; Jo 5.40; 1 Jo 5.10).


      Não obstante, estes que ouvem a chamada do evangelho e não se arrependem, não é por causa de alguma debilidade do evangelho, nem do Cristo que lhes é oferecido e nem do Deus que os chama através do evangelho que concede muitas bênçãos aqueles aos quais Ele chama.
Mas, a debilidade está naqueles que foram chamados, que, sendo indiferentes ao evangelho e suas implicações, não aceitam a palavra da vida. Outros chegam até a aceitá-la, mas não na maior profundidade de seu coração e, por conseguinte, depois de desfrutar de uma fé temporária, caem novamente.

Outros sufocam a palavra com os espinhos dos cuidados e dos prazeres do mundo e por isso não frutificam. Esse é o ensino do Senhor Jesus na parábola do semeador. Portanto, pela recusa a aceitarem o Evangelho, tais pessoas aumentam a sua responsabilidade e entesouram ira sobre si, para o dia do juízo.

(Hb 4.4-6) Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados (O conhecimento da palavra de Deus através da pregação), e provaram o dom celestial (experiências momentâneas das bênçãos bondosas de Cristo e as maravilhas oriundas da presença do E.S.), e se tornaram participantes do Espírito Santo (Um tipo de experiência com o E.S. como sentir forte a sua presença ou coisas desta natureza).

E provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, (Referência a participação dos Hebreus em terem ouvido os ensinos de Jesus e terem visto os inúmeros milagres e curas), E recaíram (ou apostataram, exemplo de Judas, que até mesmo possuía dons do E.S.), sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério (Ou seja, uma completa rejeição pública de desonra a Cristo e a igreja). ACF

(Hb 10.26-27) Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.

(Rm 2.4-5) Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento. NVI
     Franklin Ferreira escreve: “A chamada geral do evangelho pode ser, e geralmente é rejeitada, mas a chamada especial do Espírito não pode ser rejeitada. Ela sempre resulta na conversão daqueles a quem é feita.

Contudo, este chamado externo não é inútil. Já que é feito a todos, mas que somente os eleitos serão salvos. Deus alcança o Seu propósito através deste chamado, que é nas mãos de dEle, um meio para a preparação da obra da graça regeneradora no coração daqueles que lhe pertencem.

(Is 55.11) assim será a palavra que sair da minha boca: Não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. ARA

(Rm 8.30) E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. ARA
(2Tm 1.9) Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos; ARA
(Hb 9.15) Por isso mesmo ele é Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. ARA
     E para concluir, uma pergunta pode estar ecoando em nossa mente diante de tudo que foi exposto. Não seria Deus injusto, que mesmo oferecendo este chamado externo as pessoas que não são eleitas julgá-las por rejeitarem a oferta do evangelho para a salvação? Sendo que não foi Ele mesmo que predeterminou que elas não aceitassem a palavra de Deus e não se arrependessem para crer em Jesus como Salvador?

     A resposta para esta questão é bem simples. Conforme sabemos acerca do conceito do paradoxo entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem em cada atitude que ele toma, Deus já sabe pela sua presciência de cada uma das nossas atitudes. O livro da nossa vida já foi todo escrito por Ele antes de haver todas coisas.

Todavia, se Deus sabe de tudo o que vai acontecer, indubitavelmente é porque ele já predeterminou tudo o que há de ser, por isso Ele sabe de antemão tudo o que vai acontecer. Porém, apesar disso tudo, nós temos a nossa responsabilidade por cada atitude que tomamos, pois somos nós que agimos, e não Deus.

     Portanto, conclui-se que, se uma pessoa rejeita o evangelho e a oferta de salvação, ela mesma será culpada por isso e nunca Deus. Ela simplesmente pela sua livre escolha não quis Deus, e por ela não querer, vai sofrer a consequência deste ato, a saber, a condenação eterna no lago de fogo.

(Jo 3.17-18) Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram másACF


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