segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

" Ordo Salutis- A Ordem da Salvação

SALVAÇÃO


ELEITOS


A doutrina bíblica da ELEIÇÃO ensina que Deus escolheu um número definido de indivíduos para obter salvação mediante a fé em Cristo. As identidades exatas dessas pessoas foram determinadas e são inalteráveis. Deus elegeu tais indivíduos sem qualquer consideração por suas decisões, ações e outras condições neles, mas a base de sua opção foi somente seu querer. Ele as escolheu para a salvação tão somente porque quis escolhê-los, e não porque ele previu qualquer coisa que eles fossem decidir ou fazer.
Ainda que eu vá mais completamente discutir a doutrina da eleição e responder a várias objeções na presente seção, já tenho estado explicando e defendendo a doutrina através deste livro, e todos os argumentos em apoio à absoluta soberania e à eleição divinas que haviam aparecido nos capítulos anteriores também se aplicam a esta seção. Lembrando isso, a necessidade de repetição será reduzida.
Nossa primeira passagem bíblica vem de Romanos 9. Ainda que o Israel nacional fosse supostamente a nação escolhida de Deus, a maioria de seu povo tinha rejeitado a Cristo, e assim foram tirados da salvação. Isso significa que a promessa divina para com Israel havia falhado? Paulo resolve essa questão em sua carta aos romanos: Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: “Por meio de Isaque a sua descendência será considerada”. Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão. Pois foi assim que a promessa foi feita: “No tempo devido virei novamente, e Sara terá um filho.” (Romanos 9.6-9)
Ainda que “Israel” fosse a nação escolhida por Deus, nem todos os israelitas de nascimento natural eram israelitas genuínos. Deus nunca fez a promessa de salvação ao Israel nacional, mas somente aos verdadeiros descendentes de Abraão, que constituem o Israel espiritual. Quando seus adversários alegavam ser descendentes de Abraão, Jesus respondia: “Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras que
Abraão fez. Mas vocês estão procurando matar-me, sendo que eu lhes falei a verdade que ouvi de Deus; Abraão não agiu assim” (João 8.38-40). Ainda que tais pessoas fossem descendentes naturais de Abraão, Jesus disse que eles não eram de fato filhos dele, mas que tinham por pai o diabo (v. 44).
Por outro lado, Paulo escreve: “Se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3.29). Aqueles que tem a fé de Abraão são seus genuínos filhos (Romanos 4.16). A promessa divina foi feita aos descendentes espirituais de Abraão, não aos naturais. Naturalmente, esses últimos que crêem em Cristo são também seus descendentes espirituais e, assim, também herdeiros da promessa, mas herdeiros somente devido à sua herança espiritual e não à natural. Paulo então cita o exemplo de Jacó e Esaú:
E esse não foi o único caso; também os filhos de Rebeca tiveram um mesmo pai, nosso pai Isaque. Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama — foi dito a ela: “O mais velho servirá ao mais novo”. Como está escrito: “Amei Jacó, mas rejeitei Esaú.” (Romanos 9.10-13)
Ainda que tanto Jacó quanto Esaú fossem descendentes naturais de Isaque, Deus os tratou diferentemente, ao favorecer o mais novo em detrimento do mais velho. Tal decisão não foi baseada em “qualquer coisa boa ou má” que tivessem feito, mas foi para que “o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse.” A escolha foi incondicional, significando que não foi “por obras, mas por aquele que chama.” Jacó
foi favorecido devido à soberana vontade de Deus, não por algo que tivesse feito ou fosse fazer; a escolha divina foi completamente independentemente de qualquer condição em Jacó. Como diz o versículo 15: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” O verso 16 expressa a condição necessária: “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço
humano, mas da misericórdia de Deus”. Paulo diz que Deus nos salvou “por causa da sua própria determinação e graça,” não devido a qualquer condição que ele viu em nós, e ele nos deu essa graça salvífica “desde os tempos eternos” (2 Timóteo 1.9). Ele “nos predestinou”, escreve Paulo,
“conforme o bom propósito da sua vontade” (Efésios 1.5), não devido ao que ele soubesse que iríamos decidir ou fazer. Somos “chamados de acordo com o seu propósito” (Romanos 8.28). Aos tessalonicenses, Paulo escreve: “Ele os escolheu [a vocês]” (1 Tessalonicenses 1.4), e não: “Vocês o escolheram”. Ele repete isso em sua próxima carta a eles e diz: “Deus os escolheu [a vocês] para serem salvos” (2 Tessalonicenses 2.13), e não: “Vocês escolheram a si próprios para serem salvos.” A eleição não depende das decisões ou ações do homem, mas da misericórdia divina que é dispensada por sua vontade soberana somente. Jesus diz em João 6.37,44:
Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais
rejeitarei. Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o
ressuscitarei no último dia. O versículo 37 diz que todos os que são pelo Pai dados a Jesus virão a esse, e o 44 exclui todos os demais de vir a Jesus. Ou seja, serão salvos todos a quem o Pai lhe dá
(v. 37), e ninguém que o Pai não dê a Jesus será salvo (v. 44). Visto que outras passagens bíblicas indicam que nem todos serão salvos, segue-se necessariamente que o Pai não dá toda pessoa a Jesus para ser salva.
A palavra traduzida por “atrair” no versículo 44 também quer dizer “arrastar”, “puxar” ou até “forçar”, de modo que pode ser lido: “Ninguém pode vir a mim a não ser que o Pai que me enviou o arraste, o puxe e o force.” Por exemplo, a palavra é traduzida por “arrastaram” e “arrastam” na NVI nos seguintes versículos:
Percebendo que a sua esperança de lucro tinha se acabado, os donos da escrava agarraram Paulo e Silas e os arrastaram para a praça principal, diante das autoridades. (Atos 16.19) Toda a cidade ficou alvoroçada, e juntou-se uma multidão. Agarrando Paulo, arrastaram-no para fora do templo, e imediatamente as portas
foram fechadas. (Atos 21.30) Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais? (Tiago 2.6). Tendo em mente a total depravação do homem (Romanos 3.10-12,23), que está espiritualmente morto e não pode responder a ou mesmo requisitar qualquer assistência, Jesus está dizendo que ninguém pode ter fé nele a menos que seja
escolhido e compelido pelo Pai. Visto que a fé em Cristo é o único caminho para a
salvação (Atos 4.12), e visto que é o Pai apenas e não os próprios indivíduos humanos
quem escolhe aqueles que virão a Cristo, segue-se que é o Pai que elege quem
receberá salvação, e não os indivíduos humanos mesmos.
Jesus repete esse ensino em João 6.63-66: O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida. Contudo, há alguns de vocês que não crêem”.
Pois Jesus sabia desde o princípio quais deles não criam e quem o iria trair. E prosseguiu: “É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai”. Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.
Ninguém pode vir a Jesus a não ser que lhe seja dado pelo Pai; ou seja, ninguém tem a faculdade de aceitar Jesus se o Pai não lha der. Essa mesma passagem mostra que o segundo não dá tal capacidade a todos, visto que muitos deles não crêem e que “muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo”. Jesus diz a seus discípulos: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi” (João 15.16; também v. 19). Diz que “ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11.27). E, em Mateus 22.14, que “muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, não que “muitos são convidados, mas poucos. “E quem, neste mundo de morte e pecado, não digo meramente querer, mas que pode querer o bem? Não é sempre verdade que uvas não são colhidas de espinheiros, nem figos dos cardos; que é somente a boa árvore que produz bom fruto enquanto que a má, sempre e em todo lugar, só fruto mau? ...É inútil conversar sobre salvação sendo a favor do ‘todos que a quiserem’ num mundo em que o ‘não a quero’ é universal”; Jesus contradiz a suposição comum de que responsabilidade pressupõe capacidade — isto é, que se alguém é incapaz de aceitar o evangelho, então ele não deve ser censurado por rejeitá-lo. Contudo, ele diz que todos os seres humanos são incapazes disso a menos que capacitadas por Deus, mas todos os que recusam o Evangelho serão também punidos por sua incredulidade. Deste modo, a
responsabilidade não pressupõem capacidade. Discutiremos isso mais adiante no texto. aceitam o convite.” Isto é, muitos podem ouvir a pregação do evangelho, mas apenas aqueles “designados para a vida eterna” (Atos 13.48) podem e vão crer. Os eleitos são aqueles “por ele [Deus] escolhidos” (Marcos 13.20). Os crentes foram “escolhido[s] pela graça” (Romanos 11.5), e são eles “os que pela graça haviam crido” (Atos 18.27). Assim, não se pode eleger a si mesmo para a salvação aceitando a Cristo, mas recebe-se salvação aceitando a ele porque Deus escolhe primeiro. A fé não é a causa da eleição, mas a eleição é a causa da fé. Cremos em Cristo porque Deus primeiro nos elegeu para sermos salvos e então nos levou a acreditar naquele. Somos salvos porque Deus nos escolheu, não porque o escolhemos. A seguir, uma lista de várias passagens bíblicas relevantes para a doutrina da eleição, incluindo citações mais completas daquelas passagens que estão citadas apenas parcialmente acima. Algumas dessas passagens são também relevantes para os outros tópicos que discutiremos posteriormente neste capítulo:

Como são felizes aqueles que escolhes e trazes a ti, para viverem nos teus átrios! Transbordamos de bênçãos da tua casa, do teu santo templo! (Salmo 65.4)

Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece o Filho a
não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o
Filho o quiser revelar. (Mateus 11.27)

Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. (Mateus 22.14)

Se o Senhor não tivesse abreviado tais dias, ninguém sobreviveria. Mas, por
causa dos eleitos por ele escolhidos, ele os abreviou. (Marcos 13.20)

Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto
que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome.
(João 15.16)

Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele.
Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo;
por isso o mundo os odeia. (João 15.19)

Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e
creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna. (Atos 13.48)

Querendo ele [Apolo] ir para a Acaia, os irmãos o encorajaram e escreveram
aos discípulos que o recebessem. Ao chegar, ele auxiliou muito os que pela
graça haviam crido. (Atos 18.27)

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam,
dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. (Romanos 8.28)

E Isaías diz ousadamente: “Fui achado por aqueles que não me procuravam;
revelei-me àqueles que não perguntavam por mim”. (Romanos 10.20)

E qual foi a resposta divina? “Reservei para mim sete mil homens que não
dobraram os joelhos diante de Baal.” Assim, hoje também há um
remanescente escolhido pela graça. E, se é pela graça, já não é mais pelas
obras; se fosse, a graça já não seria graça. Que dizer então? Israel não
conseguiu aquilo que tanto buscava, mas os eleitos o obtiveram. Os demais
foram endurecidos, como está escrito: “Deus lhes deu um espírito de
atordoamento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje.”
(Romanos 11.4-8)

Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos
e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos
adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da
sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente
no Amado. (Efésios 1.4-6)

Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano
daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, a fim de
que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua
glória. (Efésios 1.11,12)

Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas
obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos. (Efésios 2.10)

Pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também
de sofrer por ele, já que estão passando pelo mesmo combate que me viram
enfrentar e agora ouvem que ainda enfrento. (Filipenses 1.29,30)

Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha
presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a
salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês
tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.
(Filipenses 2.12,13)

Sabemos, irmãos, amados de Deus, que ele os escolheu porque o nosso
evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas também em poder, no
Espírito Santo e em plena convicção. Vocês sabem como procedemos entre
vocês, em seu favor. (1 Tessalonicenses 1.4,5)

Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses 5.9)

Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo
Senhor, porque desde o princípio Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade. (2 Tessalonicenses 2.13)

Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos, sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a
imortalidade por meio do evangelho. (2 Timóteo 1.8-10)

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo
de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz. (1 Pedro 2.9)

A besta que você viu, era e já não é. Ela está para subir do Abismo e caminha
para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no
livro da vida desde a criação do mundo, ficarão admirados quando virem a
besta, porque ela era, agora não é, e entretanto virá. (Apocalipse 17.8)

Guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos
senhores e o Rei dos reis; e vencerão com ele os seus chamados, escolhidos e
fiéis. (Apocalipse 17.14)

A Bíblia não pinta a humanidade como um grupo de pessoas se afogando no mar do pecado, e que seriam resgatados tantos quanto queiram cooperar com Cristo. Antes, traz a figura na qual todos os seres humanos estão mortos na água (Efésios 2.1; Romanos 3.10), e que afundaram todos rumo ao fundo (Jeremias 17.9). Visto estarem mortos, são incapazes de cooperar com qualquer assistência, ou mesmo de requerê-la.
Na verdade, não prefeririam ser resgatados se deixados a si mesmos (Romanos 8.7; Colossenses 1.21). Contra uma tal situação, o Pai escolheu alguns para serem salvos por Cristo (2 Tessalonicenses 2.13; Efésios 1.4,5) arrastando-os para fora da água (João 6.44,65), meramente por sua própria iniciativa (Romanos 9.15). Tendo assim agido, ele os ressuscita dos mortos para nova vida em Cristo (Lucas 15.24; Romanos 6.13).

A doutrina bíblica da eleição ensina que ainda que todos os seres humanos mereçam o tormento sem fim no inferno devido aos pecados seus, Deus preferiu mostrar misericórdia para com alguns deles. Ele os elegeu antes da criação do universo e da queda do homem, e o fez sem levar em consideração de qualquer condição neles, seja boa ou má. Tendo elegido alguns para salvação, enviou Cristo para morrer como
pagamento completo por seus pecados, de modo que Deus pode creditar a justiça merecida por esse para eles quando vêm a Cristo. Por outro lado, aqueles que não foram eleitos para a salvação são designados para a condenação eterna, e receberão a punição apropriada por seus pecados, a qual é o tormento sem fim no inferno. Responderemos agora a várias objeções. Isso também nos dá a oportunidade de
aclarar e expandir certos aspectos de tal doutrina. Muitos daqueles que se recusam a aceitar o ponto de vista bíblico da eleição asseveram que Deus de fato escolheu alguns para salvação, mas a base para tal
escolha foi seu CONHECIMENTO ANTECIPADO. Isto é, ele sabia de antemão quais indivíduos livremente aceitariam Cristo, e sobre essa base ele os elegeu. Tal opinião antibíblica destrói o significado de eleição, visto querer dizer que Deus não elege as pessoas para a salvação em absoluto, mas que simplesmente aceita as escolhas daqueles que a si mesmo escolheram para salvação. Quando a locução “conhecimento antecipado” é usada da maneira acima, está se referindo à percepção cognitiva divina dos fatos futuros, tais como as decisões e as ações dos indivíduos. Desse modo, os proponentes desse ponto de vista definem o conhecimento divino antecipado como presciência. Além disso, fica suposto que tal
conhecimento é passivo, de modo que não é Deus que causa os eventos futuros que ele sabe, mas que ele passivamente entende o que suas criaturas farão acontecer. No trecho seguinte, estarei mostrando que definir “conhecimento antecipado” como presciência passiva gera problemas insuperáveis, e que o termo significa algo diferente na Bíblia.

Primeiramente, já expusemos que todo ser humano é em si mesmo tanto incapaz quanto nada disposto a vir a Cristo para salvação; uma pessoa pode e vai vir a Cristo somente se o Pai a capacitar e a compelir a assim fazer (João 6.44,65). Provamos ainda que o Pai não capacita nem compele todo ser humano a vir a Cristo. Isso significa que uma pessoa vem a Cristo somente porque o Pai o leva a assim agir. Visto que isso é verdadeiro, então dizer que a eleição é baseada na presciência divina das decisões futuras do homem é somente dizer que Deus conhece quem ele mesmo fará com que aceite Cristo, e que tal presciência não seria passiva. Se Deus elege uma pessoa porque sabe que essa aceitará Cristo, mas se tal pessoa aceitá-lo somente, porque Deus a levará a isso, então dizer que Deus sabe que ela o fará é o mesmo que
dizer que ele sabe que levará essa pessoa a aceitar Cristo. A eleição divina dela, então,
ainda está baseada em sua decisão soberana de elegê-la para a salvação, e não num conhecimento antecipado passivo de que ela aceitará Cristo sem que Deus a leve a assim fazer.

Isso é o que a Bíblia ensina, mas então significa que a presciência divina não é um conhecimento passivo do que uma pessoa decidirá ou executará, mas que é um conhecimento do que Deus a levará a decidir ou executar. A presciência divina é uma forma do autoconhecimento de Deus — um conhecimento dos seus próprios planos, e um conhecimento do que ele realizará no futuro. Portanto, dizer que a eleição é
baseada na presciência não desafia nossa posição absolutamente, visto que o conhecimento divino do futuro nunca é passivo, mas é ele mesmo que causa todas as coisas que ele sabe que acontecerá no futuro (Isaías 46.10).

Em segundo lugar, a Bíblia declara que a eleição divina não está baseada nas decisões ou ações do homem, que Deus não elege alguns para a salvação devido ao que essa pessoa decidirá ou fará.
Pois ele diz a Moisés: “Farei misericórdia a quem eu fizer misericórdia, e terei piedade de quem eu tiver piedade.” Não depende, portanto, daquele que quer, nem daquele que corre, mas de Deus que faz misericórdia... De modo que ele faz misericórdia a quem quer e endurece ele quer. (Romanos 9.15-16, 18; Bíblia de Jerusalém).

A eleição divina não é baseada numa presciência passiva, e, em primeiro lugar, a
presciência divina não é passiva. Deus escolhe uma pessoa porque quer escolher
aquela pessoa, e sabe que ela crerá no evangelho por saber quem ele fará crer no
evangelho.

Em terceiro lugar, definir o conhecimento divino antecipado como presciência passiva, na verdade, não logra fazer sentido com as passagens bíblicas que dizem que a eleição divina é baseada em conhecimento antecipado: Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, tambémjustificou; aos que justificou, também glorificou. (Romanos 8.29,30)

Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue: Graça e
paz lhes sejam multiplicadas. (1 Pedro 1.1,2)

Nossos adversários interpretariam essas duas passagens como dizendo que a eleição divina está baseada em conhecimento antecipado no sentido de presciência passiva; isto é, Deus escolhe aqueles a quem ele passivamente sabia que aceitaria Cristo.Ora, a estrutura de Romanos 8.29,30 necessariamente implica que todos os indivíduos incluídos numa fase da ordem de salvação também entrariam em todas as fases
subseqüentes, e que todos os indivíduos em qualquer fase da ordem de salvação estão também incluídos em todas as fases anteriores. Desse modo, todos aqueles de antemão conhecidos foram também predestinados; todos aqueles predestinados são também chamados; todos aqueles chamados são também justificados; e todos aqueles justificados são também glorificados.

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